São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995 |
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Para Marie-Claude Char, chaves são muitas
ESPECIAL PARA A FOLHA Em seu poema ``Anti-Char", João Cabral fala do que deve ser a primeira impressão e a maior dificuldade dos que se deparam pela primeira vez com alguns dos textos mais herméticos de René Char: ``Poesia intransitiva/ sem mira e pontaria:/ sua luta com a língua acaba/ dizendo que a língua diz nada".``Sempre haverá mistério na poesia de Char, felizmente. Por isso, não se trata de mudar ou levantar o véu do seu hermetismo. Mas, entre os poemas, existem aqueles que são de um acesso mais fácil. Selecionando os poemas por ordem temática, incluindo poemas sobre o amor, a revolta, seus escritos da resistência, criamos uma primeira impressão, um primeiro acesso a esse leitor pouco habituado", disse à Folha a viúva do poeta, Marie-Claude Char, por telefone, de Paris, a respeito do espetáculo de leitura dos poemas que estreou no ano passado, no teatro do Odéon (Paris), e será apresentado no Brasil em outubro. ``Em seguida, se o leitor ou espectador quiser, pode seguir em frente. Tentamos abrir um caminho com esse espetáculo. Mas ninguém pode captar a poesia inteiramente, dominá-la. Sempre haverá uma parte que a fará escapar, por seu modernismo, por sua violência. Não é por isso que vamos dar chaves. Não há apenas uma chave, mas várias. Nada é definitivo. Nenhum comentário é definitivo", continua Marie-Claude Char. O espetáculo, baseado numa coletânea de poemas editada no ano passado pela Hachette em sua coleção de clássicos dirigidos a um público jovem, de escolas, será apresentado em Brasília, São Paulo (dentro do 5º Festival Internacional de Artes Cênicas) e Salvador. Michel Piccoli e Dominique Blanc recitam os poemas e o historiador e professor do Collège de France Paul Veyne faz intervenções sobre a vida do escritor. ``Trata-se de algo mais que uma leitura, porque detalhes da própria vida do poeta estão inseridos entre os poemas. A vida e a escrita estão intimamente ligadas. São dados detalhes cronológicos, que situam melhor os encontros e as ações do poeta. Tentamos sobretudo mostrar o engajamento do homem em sua época", diz. Texto Anterior: A paixão violenta Próximo Texto: Estratégias da hostilidade Índice |
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