São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Japão espera a chegada do anticoncepcional

The Independent
De Londres

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

Na primavera de 1996, se tudo correr conforme o previsto, a sociedade japonesa irá finalmente ingressar nos anos 60. Este mês, o Ministério da Saúde e do Bem-Estar aprovou um plano para autorizar o uso da pílula anticoncepcional -35 anos após sua introdução no resto do mundo. O Japão e a comunista Coréia do Norte têm em comum o fato de serem os únicos países que ainda não autorizaram a venda da pílula anticoncepcional de baixa dosagem, usada por cerca de 60 milhões de mulheres no mundo.
Agora, porém, após um estudo que durou três anos, o Ministério da Saúde admitiu as conclusões tiradas por estudos internacionais há muito tempo: que não existe vínculo entre o uso de contraceptivos orais e a disseminação do HIV, vírus que causa a Aids.
Há razões pelas quais o uso da pílula é uma idéia que desagrada aos políticos japoneses. Em 1965, uma conferência do governo que pretendia autorizar o uso da pílula foi cancelada abruptamente. O motivo parecia ser o temor pela imoralidade sexual. A revolução sexual aconteceu sob a frágil proteção da camisinha, ainda hoje opção preferida por 80% dos casais.
Recentemente, porém, surgiram razões muito mais práticas para desaprovar o contraceptivo. Desde o final da Segunda Guerra, o índice de natalidade no país vem caindo, numa tendência que compromete seriamente a mão-de-obra e o sistema previdenciário. Em 1947, as japonesas tinham em média 4,5 filhos. Mas o déficit habitacional, o alto custo do ensino e as crescentes expectativas profissionais das mulheres desencorajaram os casais a terem vários filhos.
A população japonesa está com a menor proporção de crianças e a maior de idosos de todos os tempos. Essas cifras estão alimentando o medo de uma crise demográfica futura, com um número crescente de aposentados tendo de ser sustentado por um número cada vez menor de contribuintes.
Os discretos incentivos do Estado não reverteram a tendência. Em Tóquio, por exemplo, os casais ganham uma redução de imposto no valor de 300 mil ienes (cerca de R$ 2.800,00) por filho. O resultado, até agora, tem sido dúbio.
A pílula só pode ser obtida para tratamento de distúrbios hormonais. Médicos concordam em receitar o anticoncepcional para corrigir menstruações irregulares de mulheres que querem usá-lo para fins contraceptivos.
Mas a pílula que receitam é antiga -cuja dosagem é dez vezes mais forte do que as das marcas modernas- e com riscos maiores de efeitos colaterais.
Ironicamente, mesmo se a pílula de baixa dosagem for aprovada pelo Ministério da Saúde, é muito pouco provável que exerça grande efeito sobre o planejamento familiar dos japoneses. Após 30 anos de desaprovação oficial, há muita desconfiança em relação a ela.
Apenas 29% das japonesas querem que a pílula seja vendida livremente, e 13% afirmam que a usariam. A maioria diz não saber. ``A educação sexual no Japão é praticamente inexistente", diz Yuriko Ashino, da Federação Japonesa de Planejamento Familiar.

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