São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Governo resiste

O governo Fernando Henrique Cardoso tem um bom motivo para comemorar as pesquisas publicadas hoje por esta Folha. Apesar de o Plano Real ter a sua pior avaliação desde a introdução da nova moeda, em julho de 94, a maioria relativa da população brasileira (42%) considera o desempenho do governo ótimo ou bom.
O plano ainda é bem avaliado -é considerado bom para o país por 68%, contra um pico de 79% no Natal passado-, mas os que o julgam ruim saltaram de 10% em julho de 1994 para 23%.
A principal causa para o desgaste do Real parece ser a expectativa de desemprego. Os que julgam que ele vai aumentar passaram de 47% em março deste ano para 62% hoje. A porcentagem dos que acham que correm algum ou um grande risco de serem demitidos soma 41%.
O fato de o fantasma do desemprego não ter abalado a imagem do governo se deve possivelmente ao fato de esse fenômeno não ser tão diretamente ligado a políticas governamentais quanto a formidável queda dos índices de inflação.
De resto, há pelo menos dois precedentes na América Latina que corroboram a tese de que derrubar a inflação, mesmo que mergulhando o país em forte recessão, é popular. Gonzalo Sanchez de Lozada, o responsável pelo plano de estabilização da Bolívia, logrou eleger-se presidente. Carlos Menem não só se reelegeu como conseguiu alterar a Constituição para poder fazê-lo.
O fato de as pesquisas darem ao governo motivos para comemoração não significa, muito pelo contrário, que as autoridades possam descuidar de observar atentamente o nível de atividade econômica. Num país pobre e sem mecanismos eficazes de proteção social, a questão do emprego pode significar a diferença entre uma existência minimamente digna e a miséria.

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