São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Genoino defende demissão de servidores

DENISE MADUEÑO; GUILHERME EVELIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado José Genoino (PT-SP) provocou polêmica dentro de seu partido ao defender ontem na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) a aprovação da proposta do governo que acaba com a estabilidade do servidor público.
Genoino considera que os funcionários públicos não têm direito adquirido à estabilidade, ao contrário do que defende a maioria do PT. Seu discurso incendiou os debates na CCJ. Os petistas ficaram contra e o líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), a favor de Genoino.
``Foi o mais brilhante discurso a favor da reforma até agora", disse Santos, provocando a reação dos demais deputados petistas.
``O direito de opinião é inalienável. Cada parlamentar deve avaliar se sua posição prejudica ou não a proposta que seu partido vem fazendo", disse o líder do PT na Câmara, Jaques Wagner (BA).
Além do fim da estabilidade, Genoino defendeu a proposta do governo que institui o salário do presidente da República como teto para o pagamento de remuneração dos servidores.
O deputado apresentou uma tabela mostrando que só em São Paulo 3.500 funcionários ativos e inativos recebem igual ou mais que o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os petistas tiveram um aliado inesperado contra seu correligionário. O deputado Bonifácio de Andrade (PTB-MG), da base de apoio do governo, se uniu a Milton Temer (RJ), Marcelo Deda (SE) e Hélio Bicudo (SP) na contestação.
Genoino afirmou que o fim da estabilidade do servidor não fere a Constituição federal porque não se trata de um direito universal que atinge todas as pessoas. Disse que não se pode considerar o assunto como imutável sob o risco de ``petrificar" a Carta.
O deputado argumentou que, nesse caso, nenhum dispositivo constitucional poderia ser alterado, nem os que tratam do sistema financeiro.
``Não estou defendendo a emenda do governo. Quero mudar a proposta na comissão especial", disse Genoino. Ele afirmou que pretende alterar três pontos.
A estabilidade no emprego, segundo sua avaliação, deve depender do cargo e da eficiência, entre outros critérios.
Genoino quer ainda a proibição de demissões por motivos políticos e a contratação de funcionários pelo regime da CLT (Consolidação da Leis do Trabalho) para as vagas abertas com a demissão de servidores concursados demitidos.
O deputado terminou seu discurso afirmando que votará conforme determinação da bancada do PT. ``Estou exercendo o direito de opinião que o meu partido democrático garante", disse.
Genoino ironizou a defesa que seus colegas de esquerda faziam da estabilidade, sugerindo que é uma questão menor. Para tanto, invocou o nome do líder da Revolução Russa, Vladimir Lênin: ``Imagine Lênin discutindo cláusula pétrea (artigos que não podem ser mudados na Constituição)".
Milton Temer, então, sacou o nome do historiador marxista inglês Eric Hobsbawm e se preparava para fazer uma citação, mas não teve tempo. Foi novamente interrompido por Genoino.
Temer respondeu que nunca foi leninista: ``Ao contrário de alguns companheiros, não tenho penas a pagar". Era uma referência indireta à participação de Genoino na luta armada nos anos 70. À época, o petista dissidente pertencia ao PC do B. Temer disse ainda que se opôs ao regime políticos dos países do Leste europeu muito antes da queda do Muro de Berlim.

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