São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Mirândola é solto e faz brincadeira

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sete dias depois de ser preso como o principal suspeito do atentado a bomba no Itamaraty, dia 3, o ex-oficial de chancelaria Jorge Mirândola, 48, foi solto ontem pela Justiça Federal por falta de provas.
A libertação de Mirândola foi determinada pelo juiz José Eustáquio da Silveira, do Tribunal Regional Federal sediado em Brasília. Ele concedeu liminar no habeas corpus impetrado pelo advogado Marcos Antonio Monteiro, primo distante de Mirândola.
O juiz considerou os indícios apresentados para justificar a prisão como ``insuficientes e fantasiosos". Ele se referia às cartas de Mirândola sobre ameaças de bombas no Itamaraty e à compra de materiais elétricos em Divinolândia (SP).
A PF havia considerado esses indícios fortes para caracterizar seu envolvimento com o atentado.
Em entrevista coletiva, Mirândola disse que não passou de um ``equívoco" o fato de a PF (Polícia Federal) tê-lo acusado de enviar o livro-bomba que explodiu nas mãos da diplomata Andréia Cristina David, 43. Ele afirmou que não conhecia a diplomata.
Afirmou que a lâmpada e os fios elétricos comprados em Divinolândia (SP), que poderiam ter sido usados no livro-bomba, foram encontrados em seu carro, que está em Poços de Caldas (MG), onde foi preso.
Outros indícios levantados pela PF foram o ácido e o pedaço de bronze localizados em seu apartamento no Rio de Janeiro. ``O bronze era para a armação dos chapéus que eu pinto, e o ácido é para fazer gravações de chassis nos vidros de carros", disse ele.
Mirândola não descarta a possibilidade de processar a União por causa do comportamento do diretor interino da PF, Moacir Favetti, que afirmou que havia 95% de chances de ele ser o responsável pelo atentado.
Mirândola culpou a PF pelo atentado, pelo fato de nunca ter dado atenção às cartas de alerta que enviou ao Itamaraty desde 22 de agosto.
A PF informou que um inquérito foi aberto no Rio de Janeiro por causa das cartas e que o suspeito estava sendo investigado por agentes federais. Mirândola afirma que nunca foi procurado por ninguém.
As cartas de Mirândola previam que uma bomba seria enviada ao Itamaraty.
Segundo ele, eram cartas de advertência -e não de ameaça- baseadas em mensagens espirituais. Disse que já acertou a previsão de atentados em outros países, mas não os citou.
Profético, ele prevê que dentro de três meses a PF prenderá o verdadeiro culpado pelo atentado no Itamaraty.
Anunciou que vai continuar enviando cartas às autoridades do Brasil e de outros países sempre que receber mensagens sobre atentados.
Ao embarcar em um ônibus leito, às 19h de ontem, com destino a Ribeirão Preto (SP), Mirândola se dirigiu aos jornalistas: ``Tchau, gente. Gostaram da brincadeira? Até a próxima bomba não-solucionada."

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