São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Perguntas brasileiras

JANIO DE FREITAS

Primeira:
O próprio presidente do INSS, Crésio Rolim, informa que, só nos últimos dois anos, a sonegação de contribuições empresariais foi de R$ 5 bilhões. Sonegação que é sistemática em pelo menos uma em cada três empresas.
Diante disso, é mesmo de reforma constitucional que a Previdência precisa, ou é de caráter dos governantes para cobrar às empresas sonegadoras sem pensar no que a eles convêm eleitoral e politicamente?
Segunda:
O documentário da Folha sobre o financiamento de campanhas eleitorais é muito eloquente, mas não é ainda a realidade. Ou melhor, é a parte da realidade captável por trabalho jornalístico nos documentos oficiais e oficiosos.
Alguém pode acreditar, por exemplo, que Pedro Piva, desconhecido do eleitorado, deu só R$ 294 mil à campanha de José Serra para obter o lugar de suplente do hoje ministro do Planejamento? Só R$ 294 mil por um lugar seguro no Senado, sabendo de antemão que o senador titular seria ministro. A doação registrada do Banco Itaú não é menos humorística: R$ 30 mil.
Com as modestas doações, Serra fez uma das mais ricas campanhas para o Congresso, se não a mais rica, em todo o país. Não é, porém, um caso excepcional de campanha obviamente caríssima e justificada à Justiça Eleitoral com supostos gastos de candidato a vereador em município minúsculo e pobre. A regra das prestações de contas é a tapeação.
Terceira:
De que serve, afinal, a muito onerosa, pouco ativa e nada produtiva Justiça Eleitoral? A farsa das eleições brasileiras não seria maior sem ela. E, em certos Estados, talvez fosse até menor.

Perdulário
O deputado Adroaldo Streck deve saber que no que se meteu, mas, ainda assim, é uma temeridade a sua decisão de levantar e apontar os gastos perdulários e inoportunos dos três Poderes. A persistir nisso, acabará afogado em cifrões. Já constatou, por exemplo, que os R$ 70 milhões pretendidos pela Justiça Eleitoral, para informatizar as eleições que acontecem de vez em quando, permitiriam concluir quase uma centena de obras essenciais, mas paradas por alegada falta de verbas.
Mas o propósito merece solidariedade. Desde logo manifestada aqui com a observação de um esbanjamento. O presidente Fernando Henrique e o governador Marcello Alencar acertaram que o primeiro passe dez dias do verão em Petrópolis, instalado no Palácio Rio Negro à maneira do veranismo de Getúlio.
Como o interior do palácio foi devastado pelo uso que dele fez o comando do Exército na região, durante uns 20 anos a partir da ditadura militar, para abrigar as exigências do presidente será preciso restaurá-lo (lembra-se que Fernando Henrique não gostou de um dos banheiros do luxuoso Palácio Laranjeiras e mandaram remodelá-lo). No Rio Negro, até móveis e objetos decorativos são necessários: os originais, tantos deles históricos, estão em paradeiros indefinidos.
O país não padece de falta de verbas para saúde, educação e outras essencialidades, mas talvez ao deputado Adroaldo Streck ocorra outra finalidade para o alto custo dos dez dias petropolitanos do presidente. Custo ao qual não será demais acrescentar o do deslocamento de todo o séquito presidencial.

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