São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Governo quer `cota informal' para Argentina

SÔNIA MOSSRI; LUCAS FIGUEIREDO; DENISE CHRISPIM MARIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro vai impor a prorrogação do regime de cotas de importação de automóveis da Argentina em 1996. A intenção é negociar um regime informal, administrado pelo ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo.
O Ministério das Relações Exteriores avalia que o Brasil poderia evitar nova crise nas relações comerciais com a Argentina acertando com Cavallo um novo limite para as importações de veículos.
O principal argumento do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo é que haverá aumento do consumo de automóveis no próximo ano.
Para 96, projeta-se elevação do crédito disponível e queda nos juros, seguindo a estratégia do presidente Fernando Henrique Cardoso de adotar medidas antirecessivas.
Além disso, as alíquotas de importação de veículos caem de 70% para 30% em abril do próximo ano. Isso é mais um componente que contribuirá para aumentar o consumo no setor.
Por isso, o governo considera que será preciso impor restrições à entrada de carros argentinos para proteger a indústria nacional.
Cavallo enfrenta a maior crise do plano de estabilização argentino, com uma forte recessão. As estimativas oficiais apontam desemprego de 18% e queda de 30% nas vendas do setor automobilístico no mercado interno.
Diante desses dados, as montadoras argentinas precisam do mercado brasileiro para tentar compensar o desaquecimento.
O Ministério das Relações Exteriores avalia que seria do próprio interesse de Cavallo e do setor automobilístico argentino definir um sistema de cotas informal, que seria flexível, ou seja, aumentando ou diminuindo conforme o comportamento do mercado brasileiro.
Além da preocupação com a indústria automobilística nacional, os ministérios da Indústria, do Comércio e do Turismo e da Fazenda também avaliam que o regime de cotas funcionaria como mecanismo para evitar que montadoras prefiram a Argentina ao Brasil para novos investimentos.
O objetivo do Itamaraty é conduzir as negociações com a Argentina sem que a questão chegue aos presidentes Carlos Menem e Fernando Henrique Cardoso.
No primeiro semestre deste ano, a falta de habilidade do segundo escalão do governo nas negociações com a Argentina levou a um impasse que acabou exigindo a intervenção dos dois presidentes.
O principal negociador com a Argentina é o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Marcos Azambuja.
Ele defende um acordo que não fixe cotas formalmente.
Oficialmente, tanto o Itamaraty como o MICT afirmam que o governo brasileiro ainda não decidiu qual a política que adotará no próximo ano em relação às importações argentinas de automóveis.
Em Buenos Aires, a Folha entrou em contato com o secretário de Indústria, Carlos Magariños, que preferiu não tomar posição antes de ser informado oficialmente sobre o assunto.

Colaborou DENISE CHRISPIM MARIN, de Buenos Aires

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