São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995 |
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Zé Celso se defende de acusações de desrespeitar a Igreja Católica
MARCELO DE SOUZA
O padre Baldan, que não viu a peça, acusou o grupo de desrespeitar o ritual católico da eucaristia. ``Mistérios Gozosos" foi apresentada na cidade em junho passado. A polêmica é por causa da cena em que o ator Marcelo Drummond -no papel de Jesus- oferece seu ``corpo e sangue" a outro ator na forma de banana e champanhe. Intimados a depor, Zé Celso, Drummond e outros atores do grupo -Alleyona Cavalli, Pascoal da Conceição e Cibele Forjaz- compareceram à 76ª DP com vários textos de defesa para serem anexados ao depoimento. No extenso texto de Zé Celso, a eucaristia é citada como sendo a ``devoração da força do Deus". O diretor defendeu o uso da banana para simbolizar o ``corpo de Cristo", dizendo que se trata de uma ``fruta da terra do paraíso tropical e um totem da cultura brasileira". O diretor pediu também que se anexasse a seu depoimento o livro ``Falo - A Sagrada Imagem do Masculino", escrito pelo teólogo canadense Eugene Morick, já que na peça a imagem de Cristo é simbolizada por um falo. ``Estamos apenas fazendo arte e não tivemos a menor intenção de agredir os rituais da igreja", diz Zé Celso. ``O padre é que agrediu o nosso ritual de fazer teatro na melhor tradição dionisíaca." Os membros do grupo não perderam a chance de ``fazer marketing", como eles mesmo explicaram, e levaram ao depoimento cachos de bananas, para serem oferecidas às pessoas que passavam em frente à delegacia. ``Depois dessa história, vamos remontar a peça em São Paulo e no interior", diz Zé Celso, que havia suspendido a apresentação de ``Mistérios Gozosos". A peça foi mostrada em São Paulo e em Araraquara para colher fundos para o projeto prioritário do grupo -a montagem de ``As Bacantes", de Eurípedes. Em Araraquara (cidade natal de Zé Celso), a peça foi mostrada durante a semana cultural dedicada ao irmão do diretor -o ator Luiz Antônio Martinez Corrêa, assassinado há sete anos. O próximo passo judicial cabe ao Ministério Público, que decidirá se há a necessidade ou não de um inquérito para apurar o caso. A acusação se baseia no artigo 208 do código penal, que protege imagens e ritos religiosos. A pena para quem desrespeitar a lei chega a dois anos de prisão. O advogado do grupo, Fernando Castello Branco, afirma que a possibilidade de que o caso vá adiante é muito pequena. Texto Anterior: Diretor russo expõe absurdo da obrigatoriedade do serviço militar Próximo Texto: Vernon segue tendência funk do festival Índice |
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