São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Vernon segue tendência funk do festival

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O show do grupo Masque, dia 19 no Palace, segue a tendência funk do 10º Free Jazz Festival, que tem em Stevie Wonder sua atração principal.
Mas Masque não é uma atração popular como Jamiroquai, a quem substitui. Trata-se, ao contrário, de um projeto experimental, criado há um ano pelo guitarrista Vernon Reid.
Quem comprou ingressos para o show de Jamiroquai pode pedir reembolso na bilheteria do Palace (av. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 011/531-4900) até segunda.
É a quarta vez que Vernon Reid toca no Brasil, depois de vir com o Living Colour (ao Hollywood Rock de 1992 e em 1994 no Palace) e acompanhar Naná Vasconcelos (no Heineken Concerts do ano passado).
Em entrevista à Folha por telefone, de Nova York, ele mostrou conhecimento da música e cultura brasileira, aprofundado durante suas visitas ao país, que incluiram até um passeio à Bahia.

Folha - Por que o Living Colour acabou?
Vernon - Quando era mais novo, não entendia porque meus grupos favoritos tinham que acabar. Agora sei.
Aconteceu de eu me perguntar se o que estávamos fazendo era o mesmo a que nos propusemos ao montar a banda. É preferível acabar, por mais doloroso que possa ser, do que continuar tocando pelos motivos errados.
Folha - Como foi sua experiência na Bahia?
Vernon - Uma revelação. Fui a lugares como o Pelourinho e Alagados, vi um ensaio da Timbalada de Carlinhos Brown, participei de uma homenagem a Iemanjá. E me dei conta de o quanto nós, aqui nos EUA, perdemos o contato com as nossas raízes africanas.
No Brasil há miséria, mais diferença entre as classes, mas o povo tem um sentimento de celebração da vida que nós perdemos.
Folha - Você já tocou com Naná Vasconcelos, abriu show dos Rolling Stones e gravou com Marcus Miller, entre outros. Em qual desses estilos tão diversos sente-se mais à vontade?
Vernon - Cada experiência é enriquecedora a seu modo. Acho que Naná tem uma voz única, inigualável na música contemporânea. E os Rolling Stones são uma banda de blues, que começou numa garagem e ganhou uma projeção desproporcional. Não me sinto desconfortável com eles, nem improvisando num bar de jazz.
Qualquer que seja a música -Hermeto Paschoal, Sex Pistols ou Debussy-, quando é bem tocada, ela nos permite transcender.
Folha - É possível chamar o estilo do Masque de ``fusion"?
Vernon - Claro que Miles Davis e Weather Report são influências em toda a minha música -no Living Colour também. Mas quando penso em ``fusion", penso em egos titânicos. Em pessoas que dizem: ``Se isso é genial, é porque eu sou genial". A idéia de que ``você deve ouvir isso, porque sou eu que estou fazendo" não é, de modo algum, o que há na minha música.
Gosto de ``Green Onions" (de Booker T and the MG's), dos Meters e de Kool and the Gang. É um tipo de música que não se chama de ``fusion" ou jazz, mas ainda assim é genial.
Eu já tentei descrever minha música, mas o melhor que consegui foi chamá-la de ``acid mood" (clima ácido) ou música instrumental alternativa.
Folha - Como foi sua experiência na composição de trilhas para o cinema (``Johnny Mnemonic") e teatro (``Still/Here")?
Vernon - ``Johnny Mnemonic" foi frustrante. O filme teve muitos problemas e a primeira solução da indústria foi mudar a trilha, fazê-la uma coleção de hits para o rádio.
Já ``Still/Here", de Bill T. Jones (coreógrafo soropositivo), foi a coisa mais importante que fiz, além do Masque, após o fim do Living Colour.
A peça era sobre lidar com mortalidade. Não sobre doentes, mas sobre como todos nós somos mortais e como tudo vai passar.
Me fez pensar em Hendrix. Jimi teve tão pouco tempo que é incrível tudo o que fez. Cheguei à conclusão de que precisava mudar minha vida. (Marcel Plasse)

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