São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Balé C. de la B. faz `teatro do movimento'

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MONTREAL

Pina Bausch já tem substituto à altura. Trata-se de Alain Platel, diretor do grupo Les Ballets C. de la B. (abreviação para Les Ballets Contemporains de la Belgique), que revelou-se a melhor surpresa do Festival International de Nouvelle Danse, que está se realizando em Montreal, Canadá.
Autor do chamado ``teatro do movimento", Platel apresentou na segunda-feira o espetáculo ``Bonjour madame, comment allez-vous aujourd'hui, il fait beau, il va sans doute pleuvoir etecetera."
Embora inspirado numa citação de Marguerite Duras, este título ressalta o artificialismo educado das conversações cotidianas. É mais uma ironia de Platel que mostra a decadência urbana através de um grupo expatriado de jovens, incluindo uma criança.
Para brasileiro, a cena é muito familiar -e também deve ser para Platel, que em 1992 participou do Festival de Teatro de Campinas com outra de suas criações, ``How to Approach a Dog", sem quase ser notado pela imprensa.
``Bonjour Madame" começa num cenário bruto dominado por uma banheira cheia de água. Dez rapazes iniciam uma dança de movimentos banais, conduzidos pelo som da própria respiração.
Daí em diante, articula-se um teatro dançado, com personagens, reações, situações, que fazem o espectador se confrontar com o que há de insano, desprezível e sublime na condição humana.
Quase não há música na trilha sonora, feita basicamente de ruídos. Em meio ao ambiente melancólico, em que a violência gratuita é uma das referências, há um solo genial de um garoto que expressa seus sonhos de adolescente ao imitar o gestual dos astros do rock.
Com uma estrutura engenhosa e intrigante, a peça vai além da dança e do teatro. Sem os psicologismos de Pina Bausch, envereda pelo hiper-realismo para obter um resultado raro, em que tragédia e comédia se misturam a partir de recursos cênicos elementares.
Para Alain Platel, que já foi ortopedagogo e costuma realizar projetos teatrais com crianças, ``Bonjour Madame" reflete sua concepção estética.
``A dança não é uma performance atlética, mas uma expressão com uma série de signos indicando a angústia e a impotência que somos desafiados a comunicar", ele diz.

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