São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Cavalaria almofadinha ataca o ciberespaço

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Eles são fãs da banda brasileira Sepultura, detestam a mídia, a polícia, enfim, qualquer tipo de autoridade. Alguns envelheceram sem perder a rebeldia juvenil. Muitos começaram a frequentar a Internet antes mesmo de a palavra ciberespaço ter sido inventada.
Parece que foi ontem que essa coluna falava da reação deles diante do risco de a rede ser tomada pelo comercialismo.
Já foi. Os hackers, os ciberpunks, os netmaníacos e as outras tribos do gênero perderam a guerra para a classe média. Hoje, brigam para preservar suas ilhas de território eletrônico sob assalto da cavalaria almofadinha.
Os pioneiros da rede agora são associados muito mais aos perigos da Internet do que ao espírito desbravador do povo americano. Mesmo assim, desafiam as leis do politicamente correto.
Nos últimos meses, a mídia passou a falar muito dos corredores obscuros da rede, que supostamente colocariam em risco os pilares da sociedade americana.
O estudo de uma universidade, publicado com destaque pela revista "Time", disse que a Internet era um antro de pornografia.
O Congresso chegou a votar um projeto, depois engavetado, que previa prisão e multa para quem publicasse material considerado pornográfico na Internet.
Depois do atentado de Oklahoma, as autoridades fizeram um escândalo ao descobrir que é possível encontrar na rede informações sobre a construção de bombas.
Tudo isso serve de pano de fundo aos que querem algum tipo de controle do governo sobre a balbúrdia da Internet. Alguns pregam a censura pura e simples em nome da moral e dos bons costumes.
A posição das tribos é simples: liberdade total e absoluta, custe o que custar, para que qualquer um possa dizer o que bem entender na rede. Nem sempre é uma postura confortável, porque é preciso ter estômago para defender de anti-semitas a sadomasoquistas.
O levantamento mais recente de endereços exóticos na Internet mostra que não há mesmo limites para a imaginação humana. O Wiretap agora tem uma área que ensina tudo para quem quiser derrotar o segredo de portas, cadeados e cofres. Também traz informações para quem planeja dar golpes nos caixas automáticos.
No capítulo dos grupos racistas, o "Orgulho Branco" passou a propor abertamente que os negros americanos sejam retornados para a África, que os imigrantes sejam expulsos do país e que a América do Norte seja declarada uma região dos brancos caucasianos.
E o endereço "Escândalos na Casa Branca" espalha o boato de que o presidente Bill Clinton toma a droga Thorazine para controlar comportamento sexual compulsivo. É preciso mesmo ter muita fé na liberdade para defender o direito alheio de falar besteira.

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