São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Peça publicitária

Se a Rede Globo decide exibir uma partida de futebol, ela normalmente paga pelos direitos de transmissão. Numa curiosa inversão em que tanto a Prefeitura de São Paulo como a própria Rede Globo ainda devem muitas explicações, a emissora recebeu R$ 1,2 milhão para televisionar a 1ª Maratona de São Paulo, um misto de evento esportivo e peça publicitária do prefeito Paulo Maluf e de suas obras.
A explicação do secretário municipal de Esportes, Ivo Carotini, de que a Globo recebeu a quantia para organizar a prova porque a prefeitura não conseguiria fazê-lo sozinha, parece pouco convincente. Também é estranho que a Globo tenha subcontratado a Koch Tavares para a organização do evento. Se a prefeitura de fato precisa de ajuda para a realização da prova, por que então não o fez pelo meio da devida licitação?
Por mais que a prefeitura negue, dado o caráter fortemente publicitário do evento, cujo traçado procurou percorrer quase todas as obras da atual gestão, fica difícil afastar a suspeita de que a Globo foi paga mesmo pela publicidade que fez da gestão de Maluf. Se isso de fato ocorreu, espera-se que a Rede Globo explique como, ignorando um dos mais básicos princípios éticos das empresas de comunicação, apresenta como evento jornalístico o que, na realidade e na contabilidade, acabou sendo muito mais uma peça publicitária.

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