São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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O cavalo e o suplente

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Alguém já disse, se não me engano Getúlio Vargas, que ``política é esperar o cavalo passar". Nem sempre, nem sempre, é o que desejo demonstrar.
Note-se o que se passou com o advogado Miguel Reale Jr. O animal do bordão passou diante de seus olhos e Reale Jr. não conseguiu domá-lo.
Filiado ao PSDB desde 90, Reale Jr. era o preferido da cúpula tucana para ocupar a vaga de suplente de José Serra. Uma sela vistosa, cobiçada.
Mário Covas defendia o seu nome. Era o preferido também de Fernando Henrique. Achavam-no afinado com os princípios doutrinários do tucanato. No lombo do prestígio eleitoral de Serra, Reale Jr. trotaria até o Senado.
Quem terminou montando a confortável suplência de Serra, porém, foi o empresário Pedro Piva, sócio da Klabin. E por quê? Reale Jr. tinha os princípios. Mas Piva possuía os meios.
Não foi difícil ao empresário tomar para si a montaria de nossa história. Houve certa negociação. Puxaram-se os arreios para um lado e para o outro. Mas a posição de Serra foi firme.
O então candidato ao Senado disse, na ocasião, que já havia assumido compromisso com Piva. Daria ao empresário a suplência. Reale Jr. terminou como segundo suplente.
Tentou-se, como último remédio, convencer Piva a aceitar uma secretaria no governo Covas. Mas Piva agarrou-se ao seu Silver como um Zorro empedernido. E a secretaria de Covas sobrou para Reale Jr.
Hoje, Piva vaga pelos corredores do Senado como um biônico pós-moderno. E explica de forma singela o investimento feito pela Klabin: ``Eu era suplente do Serra. Era natural que, dentro dos limites da lei, a empresa fizesse doações a ele".
Piva não é o único senador da bancada monetária. Seu companheiro mais vistoso é Gilberto Miranda (PMDB-AM), financiador e suplente de Amazonino Mendes. Ambos são evidências ambulantes de que a legislação eleitoral precisa ser modificada.
Moral da história: em política, enquanto se espera pelo cavalo, convém providenciar um torrão de açúcar para mimar o animal. Nos porões do armazém eleitoral, os princípios valem pouco. E, mais importante, os meios sempre justificam os fins.

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