São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Adultos assumem consumo infantil

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando é hora de crescer? Mais tarde, mostra a indústria do entretenimento e da moda. Peter Pan está solto no dia das crianças, transformando produtos infantis em ``hype".
O desenho japonês ``O Oitavo Homem", que está saindo em vídeo, mostra como a tendência pode ser perversa. Baseado numa série que chegou a passar no Brasil nos anos 60, com censura livre e em preto e branco, ``O Oitavo Homem" volta moderno não apenas em sua coloração computadorizada. A arte do novo desenho é elaborada, violenta e inclui nudez.
Sobram sexo e sangue na nova safra de desenhos japoneses. Um exemplo extremo da tendência chega ao Brasil em dezembro: ``Crying Freeman", sobre as aventuras de um assassino profissional e sua amante.
Mudaram os desenhos animados ou mudaram as crianças? Na verdade, produtos supostamente infantis estão sendo, cada vez mais, dirigidos ao público adulto.
A diferença pode ser tênue e polêmica. Aconteceu com o grupo Mamonas Assassinas, que usa roupas de personagens infantis. Considerada má influência pela letra desbocada, a orgia portuguesa de ``Vira, Vira", que inaugurou o estilo do Mamonas, surgiu como piada entre a banda e seus amigos -supostamente adultos. E é o público habitual das FMs, maior de 15 anos, que tem feito da música uma das mais tocadas do rádio há semanas.
Mais comuns que a música do Mamonas são as camisetas com personagens de quadrinhos e desenhos, que uniformizam adolescentes nas ruas. A moda é ser infantil.
Coleções inspiradas em desenhos têm sido o forte de marcas como Ad Libidum, Babes on Fire e Mr. Underground, uma tendência que cresceu nos últimos meses. Agora, a Escola de Divinos baseou-se no gibi ``Sandman" e Sonia Ushiyama adotou camisetas com heróis de séries japonesas.
Entre os principais heróis das crianças, o grupo nipo-americano Power Rangers tem alcançado maior projeção. No mês passado, a revista inglesa ``The Face" incluiu os personagens numa lista sobre as personalidades mais poderosas do mundo da moda, ao lado de notáveis da alta-costura.
A série acaba de ganhar uma versão para o cinema, com uma trilha pouco convencional para filme infantil -``Higher Ground", gravada por Red Hot Chili Peppers, e ``Trouble", do Shampoo, entre as músicas selecionadas.
A coleção dos episódios da TV foi lançada aqui para o dia das crianças. Mas com as versões musicais da dupla infantil Sandy & Junior e da apresentadora de TV Mariane, repelentes de adultos.
Voltada para crianças, mas com penetração maior entre adolescentes crescidos, graças a seus gibis violentos, a coleção dos desenhos do ``X-Men", é outro lançamento do mês com status de ``cult" -por seus roteiros melodramáticos sobre perseguição racial.
A infantilização do consumo cabe sob medida nas definições da chamada ``geração X" (de modo genérico: quem tem cerca de 20 anos na década de 90). Outro rótulo dos 90, ``slacker" (largado) sugere uma geração que se recusa a crescer, preferindo viver de forma improvisada a pensar no futuro.
É uma generalização, claro, mas não deixa de ser significativo que, em ``Generation X", o livro com o nome da geração, o escritor americano Douglas Copland aprofunde a personalidade de seus personagens vintões em longas conversas sobre desenhos animados favoritos.

Vídeo: O Oitavo Homem
Distribuição: Mundial (tel. 011/536-0677)
Preço: R$ 40
Coleções: X-Men e Power Rangers
Distribuição: Polygram (tel. 011/253-1666)
Disco: ``Mamonas Assassinas"
Distribuição: EMI
Preço: R$ 20 (o CD em média)

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