São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'Gaudeamus' espanta o público com anacronismo
NELSON DE SÁ
Soviético -talvez esteja aí o problema. A derrocada do modelo comunista começou há década e meia, primeiro na Polônia, depois na então União Soviética, por fim na Alemanha, com a queda do muro, há seis anos. O que se acompanha hoje, dos problemas vividos nas repúblicas que faziam a União Soviética e o leste europeu, está muito distante da fascinação pelos Beatles ou pela ```Playboy", mostrada pelos jovens soldados de ``Gaudeamus". O espetáculo é estranhamente retrógrado, como algum velho modelo Trabant ou alguma usina nuclear soviética. ``Gaudeamus", por outro lado, fecha a trama no que há de mais clichê em peças sobre treinamento militar. Parece mais uma variante de ``Biloxi Blues", a comédia de Neil Simon, que estabeleceu o gênero -vale dizer, com um humor mais aprofundado. Estão lá, assim, o pequeno grupo de amigos que espelha a corporação toda, os exercícios de ordem unida, as visitas aos prostíbulos, a bebida e as drogas. Esquetes Com uma dramaturgia recortada, bem própria de um espetáculo de diretor, que no caso foi também quem cuidou da adaptação, ``Gaudeamus" vive de esquetes, como alguma revista. Nesta direção, alcança alguns instantes deliciosos de comédia física. Pastelão mesmo. Por exemplo, na crescente confusão em torno dos exercícios de ordem unida, ou na sedução da gorda mulher do comandante por um dos jovens soldados, ou vice-versa. Mas não demora e volta a alegoria do regime soviético, carregada, velha. É estranho acompanhar uma companhia toda de jovens -mas não o diretor- esforçando-se por refletir uma realidade que não conheceu, ou conheceu ainda muito criança. Faz o melhor que pode, certamente. Aliás, não é difícil distinguir traços da sua própria geração, de maior liberdade -para não falar de maior talento, ou de grande talento, em interpretação cômica, em dança, em canto. Infelizmente, perdidos no anacronismo. Título: Gaudeamus Direção: Lev Dodine Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/n, tel. 223-3022) Quando: Até sábado, às 21h Texto Anterior: Crise marca centenário do cinema japonês Próximo Texto: 'Phaedra' trata de questões universais Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |