São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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'Beijo da Borboleta' explora ápice da paixão

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: O Beijo da Borboleta
Direção: Michael Winterbottom
Produção: Inglaterra, 1995
Elenco: Amanda Plummer, Saskia Reeves, Paul Bown, Freda Dowie e Time Fontaine
Estréia: Arouche A e Belas Artes

Assim como a canção que a ``serial-killer" Eunice (Amanda Plummer) relembra antes de matar suas vítimas, ``O Beijo da Borboleta", do inglês Michael Winterbottom, não é um filme de amor, mas um filme sobre o amor.
Um amor estranho entre duas mulheres de personalidades opostas, unidas por um desafio mútuo.
``Eu a tornarei má, antes que você me torne boa", afirma Eunice para Miriam (Saskia Reeves), uma balconista de lanchonete que vive com a avó e reza todas as noites antes de dormir.
Embora este diálogo só aconteça no meio do filme, os motivos para que elas fiquem juntas estão claros desde o primeiro encontro, num posto de gasolina.
Diante da bondade de Miriam, Eunice se lava com a mangueira da bomba de gasolina, mas a outra a segue e busca redimí-la a todo custo.
``O Beijo da Borboleta" também não é um filme que percorre as regras usuais do ``suspense" ou do ``road-movie", outros gêneros cinematográficos com os quais mantém alguma relação.
As vítimas são mortas de maneira repetitiva e previsível. E, apesar da série de crimes brutais cometidos durante o filme, não há em nenhum momento a presença de policiais.
O deslocamento pelas estradas do norte da Inglaterra não leva as personagens para nenhum lugar. Os postos de gasolina são idênticos e os diálogos se repetem.
A falta de verossimilhança do filme -ausência de ação da polícia, palavras idênticas na boca de personagens diferentes- reforça o clima de sonho ou delírio vivido pelo estranho casal.
Ela pode ser atribuída também ao transtorno mental sofrido por Miriam, que aparece em cenas filmadas em estilo documental, narrando suas aventuras com Eunice.
Por tudo isso, ``O Beijo da Borboleta" é mais do que o retrato de uma assassina psicopata.
É o retrato da situação mental em que se encontraria uma pessoa no ápice da paixão, caso as formas de repressão que atingem o indivíduo fossem abolidas totalmente.

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