São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995 |
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Homens e sombras fazem leitura trágica de conto de Jorge Luis Borges
MÔNICA RODRIGUES COSTA
A montagem, dirigida por Monica Viñao, do grupo argentino independente El Ángel, usa outros textos de Borges, especialmente a ``História de Rosendo Juárez", que dá uma outra versão dos fatos narrados no conto principal. Em ambiente sombrio, atores vestidos de negro executam movimentos quase matemáticos, que congelam a ação dramática e dão relevo às falas. Os atores têm total controle dos gestos e domínio do espaço cênico. Andam como se estivessem num labirinto, cumprindo um destino predeterminado. A iluminação do palco todo negro projeta sombras ampliadas dos atores, fazendo os personagens crescerem e povoarem o cenário. A montagem demonstra competência e mestria, mas sua concepção é discutível se o espectador espera encontrar uma representação da história de Borges. A peça faz uma leitura trágica do conto, contrasta com o estilo distanciado e irônico de Borges. Em ``Hombre de la Esquina Rosada", Borges relata o assassinato de Francisco Real, morto misteriosamente depois de desafiar Rosendo Juárez -que já matara dois e era respeitado nos bordéis- para um duelo de facas. A mulher de Rosendo, Lujanera, admirada pelo narrador, põe a faca nas mãos dele. Mas Rosendo se recusa a brigar. Real dança com Lujanera e sai com ela do salão. A narrativa de Borges flui sem dramaticidade, subverte o estilo de suspense dos enredos policiais. Os fatos são contados a partir das lembranças do narrador. O grupo argentino julga os fatos de forma trágica nas falas sobre a morte. No conto, quando Real cai morto, uma mulher fala ironicamente que, ``para morrer, não se precisa mais que estar vivo". O narrador é atormentado, o que denuncia seu envolvimento no assassinato. No conto, só se sabe quem é o autor do crime no final. Rosendo é o personagem mais bem caracterizado em relação a Borges. A partir da leitura do personagem, as sombras do palco, espécies de reflexos contidos, ganham, também, significação. Rosendo não mata Real. Reconhece nele o reflexo de si mesmo. Texto Anterior: Finley busca caminho entre Deus e liberdade Próximo Texto: Forsythe é novo gênio da dança moderna Índice |
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