São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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Forsythe é novo gênio da dança moderna

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREAL

Depois de Balanchine, Cunningham e Martha Graham, supunha-se que a dança moderna só produziria um novo gênio no século 21. Puro engano. William Forsythe, o coreógrafo que dirige desde 1984 o Ballet de Frankfurt, começa a colocar novas questões, apontando para o futuro.
Estrela absoluta da extensa programação do Festival International de Nouvelle Danse, que está se realizando em Montreal (Canadá), Forsythe e seu excepcional elenco de bailarinos estrearam na última sexta-feira o espetáculo "Eidos: Telos", uma amostra perturbadora da obra deste norte-americano adotado pela Alemanha.
Nascido em Nova York em 1949, Forsythe começou sua carreira como bailarino do Joffrey Ballet. Em 1973, foi dançar no Ballet de Stuttgart a convite de John Cranko, coreógrafo que faleceu no mesmo ano e também descobriu Márcia Haydée.
A partir de 1976, Forsythe começou a coreografar. Hoje, em Frankfurt, tem uma situação privilegiada. Sem depender de patrocínios, conta com a superestrutura do Teatro da Ópera de Frankfurt, onde está seu grupo de dança.
Em Montreal, a imprensa refere-se a Forsythe como um "deus". Recluso nos bastidores do teatro, ele não concedeu entrevistas durante o Festival de Nouvelle Danse, que, no último fim-de-semana, por causa de Forsythe, atraiu mais gente do que o normal.
Assediado por companhias de dança de todo o mundo, que ambicionam ter no repertório uma de suas peças, Forsythe no momento quer se voltar mais exclusivamente para o Ballet de Frankfurt.
Viúvo recente, também pretende se dedicar aos três filhos, de 9, 14 e 15 anos. No Carlton Dance Festival, que o tem na mira para suas próximas edições, Forsythe participa se achar uma lacuna em sua agenda lotada até fim de 1996.
Um intelectual, Forsythe costuma ler Barthes, Bergson, Foucault, Derrida. "Os textos destes filósofos são próximos de uma certa poesia contemporânea", diz.
Aos novos coreógrafos, ele aconselha: "Criem sua própria dança. Mas, também estudem filosofia. Ainda hoje, eu me sirvo de professores que me ensinam a alta cultura. Como não tenho tempo de retornar à universidade, me organizo desta forma".
Para Forsythe, a técnica clássica do balé ainda é um instrumento básico, desde que seja redefinido e reestruturado. "Minha proposta é pesquisar. O que o corpo pode dançar?", ele questiona.
O novo vocabulário criado por Forsythe desafia o eixo vertical do corpo, que caracteriza a linguagem do balé. Contrariando os alinhamentos habituais, ele desconstrói relações clássicas entre torso, quadris, braços e pernas, propondo movimentos aparentemente desconfortáveis.
Em suas coreografias, Forsythe sugere que o que não podemos ver não necessariamente desapareceu. Chama isso de "uma poesia do desaparecimento".
Em síntese, é algo como deixar o movimento sair do corpo, em vez de produzir um movimento. Com sua mente analítica e associativa, Forsythe procura revelar e gerar inúmeras relações formais.
Ele parte do princípio de que cada frase de movimento deve ser desconstruída e transformada. Para tanto, não hesita em utilizar programas matemáticos de computador, conceitos de realidade virtual ou de movimentos fractais.
Cenografia e iluminação se associam de forma deslumbrante nos espetáculos de Forsythe. "Um coreógrafo não pode se deter só nos movimentos. Tem que se preocupar com tudo que cerca a cena, todo o contexto da representação".

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