São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Calendário manda futebol para as calendas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mergulhando nas origens etimológicas do termo calendário, chegamos ao presente e desvendamos o futuro do nosso futebol: foi para as calendas.
E assim será enquanto não tivermos dirigentes com o necessário descortino e a indispensável liderança para organizar essa barafunda que chamamos de calendário esportivo. Há mais de um quarto de século, venho-me batendo pela organização racional do futebol, reduzindo-se o número de jogos disputados pelos times ao longo de uma temporada, com a consequente "elitização" (como essa palavrinha cai bem nesse caso) do espetáculo, o que resultará em aumento de receita dos clubes -logo, reinvestimentos e a instalação de uma espiral para cima.
Mas sugiro um teste: peguem uma foto do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e prestem atenção na sua expressão facial. As linhas das sobrancelhas seguem o contorno labial. Para baixo. Num teste elementar para a escolha de alguém que deva mandar uma mensagem pela TV, por exemplo, isso é fatal, pois tais características, segundo reza a cartilha da comunicação, transmitem baixas sensações.
Some-se a impressão à ação. O que fez Ricardo Teixeira, como presidente da CBF, entidade maior do nosso futebol, para tirar-nos do caos em que nos enfiamos há anos? Absolutamente nada.
Ou melhor: omitiu-se, transferindo aos presidentes de clubes a elaboração do sistema de disputas do Brasileiro, deixando às federações estaduais a confecção de tabelas regionais.
No mínimo, significa falta de liderança, de capacidade de influir nos destinos do futebol, que é, basicamente, sua função. Teixeira preocupa-se apenas em explorar o potencial da seleção numa ciranda de negócios, em que ele, pessoalmente, entra como interessado na feitura de contratos publicitários. Por isso, vive viajando. Por isso e para tentar viabilizar-se como sucessor de seu ilustre sogro, o presidente da Fifa, João Havelange. Mais nada. Rigorosamente mais nada.
Quanto à esmagadora maioria dos presidentes de federações e de clubes, que diluem entre si a responsabilidade da bagunça vigente, é, regra geral, submetida aos interesses pequenos, que, somados, formam esse quadro horrendo.
Então, embora todos os problemas do futebol brasileiro estejam devidamente equacionados, com as soluções cadastradas, letra a letra, não há quem tome o pião na unha para fazer a bola rolar com precisão em direção à meta do óbvio.
Mais uma vez, o São Paulo salta à frente, com uma proposta de reorganização do futebol. E recebe o apoio do Corinthians. Pombas! Glórias e torcidas desses dois clubes somadas representam uma autoridade suficiente para, pelo menos, levar os demais à reflexão. Sem pretender ser extremamente negativista, duvido.
Duvido até que a CBF e as federações levem tal proposta em consideração.
A verdade é que essa bola murchou. E não há quem tenha fôlego para enchê-la de ar renovado.

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