São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Conjuntura favorece os investimentos no Brasil

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Comemoramos em 5 de novembro próximo o centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, assinado em Paris, e com o qual foram inauguradas as relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão.
Uma das consequências práticas deste ato bilateral foi a chegada do navio Kasato Maru à costa paulista, em 1908, trazendo os primeiros imigrantes japoneses. A falta de oportunidade de trabalho naquele país, no começo do século, fez com que os japoneses procurassem outras nações, entre as quais o Brasil. Este se tornaria, assim, o hóspede da maior concentração de japoneses e de seus descendentes fora do Japão.
Os imigrantes japoneses nos trouxeram expressiva contribuição: desde técnicas agrícolas mais aprimoradas até a divulgação de novas concepções artísticas. Hoje, plenamente integrados na sociedade brasileira, nisseis, sanseis e descendentes de gerações posteriores, participam ativamente nos mais diversos setores da vida do Brasil. Mais recentemente, num movimento inverso, alguns retornaram ao Japão, onde também criam riqueza, além de manter vivos os laços de amizade entre Brasil e Japão.
Com este importante ativo que é o elemento humano -fator insubstituível entre os Estados-, estavam criadas as condições que fariam do Japão e do Brasil parceiros constantes.
Na área de política externa, os dois países desenvolveram uma grande comunhão de princípios nos temas da agenda internacional, tais como a promoção da paz, do desenvolvimento e do bem-estar social; desnuclearização e não-proliferação; defesa dos direitos humanos; liberalização comercial; fortalecimento e democratização do processo decisório nos organismos multilaterais, particularmente das Nações Unidas.
Também na área econômica pudemos desenvolver muitas parcerias. O surto de crescimento da década de 70 estimulou o ingresso de investimentos japoneses no país, colaborando para o esforço do desenvolvimento nacional. Os capitais e equipamentos japoneses marcaram presença em empreendimentos de infra-estrutura que incluíram não apenas o setor naval, mas o mineiro-metalúrgico passando pelo siderúrgico e portuário, e em especial pelo setor agrícola.
Os empreendimentos conjuntos permitiram a conjugação de interesses das duas partes naquilo em que havia de complementaridade econômica. Essa complementariedade, somada à estabilização macroeconômica e ao crescimento da economia trazidos pelo real, convida hoje a uma intensificação da cooperação econômica, científica e tecnológica entre os dois países. O momento é propício para que o Brasil volte, como no passado recente, a receber investimentos japoneses.
Neste sentido, as comemorações do centenário da assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação oferecem oportunidade particularmente valiosa para tornar mais ativas as relações bilaterais na direção de uma parceria mais abrangente, que explore horizontes não-tradicionais de trabalho conjunto. Essas comemorações não são ato isolado de governo, mas antes um gesto da sociedade dos dois países numa mobilização que traduz o respeito e a simpatia mútuas, conquistadas em um século de convivência.
Com o duplo intuito de festejar o passado e de lançar bases para um relacionamento futuro ainda mais promissor, sugeri que a comissão organizadora nacional das comemorações do centenário delineasse uma variada programação de eventos: reuniões e seminários sobre comércio, economia, ciência e tecnologia, meio ambiente; emissão de selo comemorativo e cunhagem de medalha; promoção de concurso de teses acerca das relações bilaterais; organização de mostras e eventos sobre cultura brasileira (artes plásticas, dança, teatro, música e fotografia); mostra de produtos brasileiros em Tóquio; e criação de programas de intercâmbio de jovens.
Com estas comemorações, procuramos honrar a memória dos pioneiros da aproximação entre os dois países e recordar as conquistas conjuntas. Buscamos, também, comprometer nosso trabalho futuro para que os próximos cem anos de relações entre o Brasil e o Japão não apenas repitam, em realizações e valor humano, o que representaram este último século para a amizade e a cooperação entre os dois países, mas também se renovem e se aprofundem ainda mais.

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