São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Modelo do Japão inspira as empresas brasileiras

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Desafiadas a competir em um mundo novo criado pela abertura econômica do país, as empresas brasileiras contam com uma receita japonesa para sobreviver na era da globalização.
Trata-se do TQC (Total Quality Control), o modelo de gestão que tem como objetivo aumentar a qualidade dos bens e serviços e a produtividade das atividades empresariais.
O TQC é um conjunto de iniciativas que requer a participação ativa de todos na empresa, desde o presidente ao mais humilde funcionário.
Qualidade, em japonês, quer dizer satisfação das pessoas. No TQC, a qualidade é a satisfação dos clientes, funcionários e acionistas de uma empresa, e da própria sociedade.
É a perfeita união de dois conceitos japoneses, o "katzen", aperfeiçoamento contínio, e o "kanban", a sincronia entre os estoques e o ritmo da produção.
O principal elo no país entre essa filosofia oriental de qualidade total e as empresas brasileiras é a Fundação Christiano Ottoni (FCO), vinculada a Escola de Engenharia Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em 1989, a FCO assinou um acordo de colaboração e assistência técnica com a JUSE (União de Cientistas e Engenheiros Japoneses), que deu origem ao projeto "TQC - Controle da Qualidade Total".
Hoje, orientadas pela Fundação Christiano Ottoni, 1.100 empresas brasileiras adotam o estilo japonês de controle da qualidade total.
Em média, três novas empresas procuram por dia a FCO, pedindo orientação para implantar o controle de qualidade japonês.
Essas empresas representam cerca de 40% do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto, a medida da produção anual do país).
O consultor sênior Ichiro Miyauchi, da JUSE, afirmou, em seminário no final do ano passado, em São Paulo, que o Brasil é o país que envia o maior número de visitantes técnicos para treinamento em TQC no Japão. Só a Fundação Christiano Ottoni já enviou 787 técnicos ao Japão.
O projeto TQC da fundação conta com 200 instrutores-consultores nacionais e nove especialistas japonesees, que atuam como consultores internacionais.
O professor Vicente Falconi, consultor e conselheiro técnico da FCO, diz que o Brasil é reconhecido pelos japoneses como o segundo movimento nacional de TQC no estilo japonês no mundo.
'À abertura da economia provocou uma verdadeira corrida das empresas a tudo que pudesse significar ganhos de produtividade", diz Fallconi.
'À implantação do TQC é essencialmente um processo de mudança de mentalidade e o brasileiro de hoje, ao contrário da grande maioria dos povos, está desejoso de mudar", afirma.
A preocupação com qualidade e produtividade no Japão é o resultado da grande competição que as empresas japonesas enfrentam dentro e fora do país.
As empresas japonesas estão entre as cinco maiores do mundo em seus ramos de atividade.
O modelo industrial japonês é caracterizado pelo sistema de produção de baixo desperdício.
Um resultado positivo da disseminação do TQC no país é a grande velocidade com que o Brasil está caminhando na certificação de empresas nas normas ISO 9000.
Este número cresceu de 25 empresas em 1991 para 80 empresas em 1992; 228 em 1993; 570 em 1994. Este ano, as estimativas indicam que será atinjido o número de 1.300 empresas.
O projeto "TQC -Controle da Qualidade Total" da FCO alcançou um desenvolvimento notável, ultrapassando as fronteiras nacionais com grande participação em outros países.
Colômbia, Argentina, Itália, EUA, Equador, Bolívia e México estão entre os países abrangidos pelo projeto TQC.
O professor José Martins de Godoy, diretor da FCO e coordenador geral do projeto TQC, diz que essas atividades no exterior tendem a aumentar ainda mais.
"Temos recebido um crescente número de pedidos de colaboração de vários países, inclusive da Índia", revelou no seminário "Brasil-Japão Qualidade e Produtividade", promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Godoy afirma que o Brasil é, de longe, o maior parceiro japonês na qualidade.
"Temos dez vezes mais empresas implantando TQC do que em todos os países denominados Tigres Asiáticos juntos".

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