São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Futebol gera nova onda de imigração em Londrina

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O norte do Paraná vive uma nova onda de imigração. Agora são japoneses de até 21 anos que buscam clubes da região para aprender a jogar futebol.
Essa imigração até provocou uma mudança na linguagem futebolística de Londrina (379 km ao norte de Curitiba). O sotaque japonês predomina nos campeonatos juvenis e de juniores da cidade.
São 115 japoneses que treinam em quatro equipes para se profissionalizar no esporte que mais cresce no Japão.
O Nichika-Londrina ("filial" do Nichika de Tóquio) tem 47 atletas. O Hyogo (ligado ao Hyogo de Kakogawa) tem outros 40.
O PSTC (Paraná Soccer Tecnical Club) e a Sociedade Esportiva Matsubara possuem 14 atletas cada um. PSTC e Matsubara são mantidos por descendentes de japoneses.
A aventura custa caro aos imigrantes. Cada aluno de futebol do Nichika-Londrina custa a seus pais no Japão US$ 25 mil por ano. Em troca, recebem curso de português e hospedagem na sede do clube.
O pioneiro Hyogo cobra US$ 22 mil por ano de cada atleta e oferece hospedagem em um hotel no centro da cidade. Fundado há um ano por 12 empresários descendentes de japoneses, o PSTC funciona como uma etapa de aperfeiçoamento para garotos japoneses que se destacam na escola mantida pelo professor Tsutomu Shibata, de Hokkaido.
O clube cobra US$ 800 por mês de cada um dos 14 atletas-estudantes. Segundo Sueo Matsubara, presidente do Matsubara, em Cambará, o clube recebe "uma ajuda para alimentação, e o resto é intercâmbio mesmo". O Matsubara é o único time no Brasil a manter um japonês entre seus profissionais. O atacante Yushi deve participar do próximo Campeonato Paranaense.
Como entram no Brasil com visto de estudante, os garotos japoneses não podem se profissionalizar aqui. Isso, no entanto, não impediu que o Nichika emprestasse, neste ano, os jogadores Ikeda e Kitamura ao XV de Novembro de Colombo (região metropolitana de Curitiba) para disputar o Campeonato Paranaense da 2ª divisão.
O Hyogo foi a única das escolas a enviar jogadores para a J-League (liga profissional do Japão). O meia Nonube joga hoje no campeão japonês, o Yomiuri Verdy, e o zagueiro Kajima atua no Reysol.

Adaptação
Em Londrina, os aprendizes de futebol japoneses, com idades entre 16 e 21 anos, sentem falta das namoradas e da comida oriental.
Sérgio Onishi, 38, presidente do Hyogo Brasil, afirma que é muito comum os adolescentes entrarem em depressão entre o segundo e o terceiro mês da estada no país.
Para Onishi, uma das causas da frustração é o próprio futebol. Ao chegar, o japonês percebe -comparado aos brasileiros- que não é bom como imaginava. Hideki Takahashi, 16, é um adolescente tipicamente japonês. Como muitos em seu país de origem, mudou a cor dos cabelos, tingindo-os de acaju.
No Nichika, muitos dos 47 estudantes também resolveram descolorir os cabelos.
Massamitsu Shirai, 19, Massanobu Yasunaga, 20, e Yassuo Harada, 17 -todos há sete meses no Brasil-, reclamam das dificuldades em se relacionar no Brasil.
Shirai menciona, por exemplo, o descaso das mulheres. "As brasileiras são difíceis", diz.

Esperança
Misugi Iuta, 13, sonha ser goleiro do Internacional de Porto Alegre (RS). Ele já treinou em um time do interior de SP e na Alemanha, mas não quer se profissionalizar no Japão. "Lá, o futebol é muito ruim, prefiro ficar aqui."
Iuta treina no Nichika. Neneca, o treinador de goleiros do clube, não é muito otimista quanto ao futuro do pupilo.
O treinador diz que Iuta vai ter que "aprender a sair do gol nas bolas pelo chão e encorpar mais". Hoje Iuta mede apenas 1,50m, mas ainda deve crescer.

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