São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Academia se prepara para a sucessão

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

O chá semanal da Academia Brasileira de Letras (ABL) deve deixar de lado hoje as conversas amenas entre os acadêmicos e discutir um tema que vem causando rebuliço nos corredores: a sucessão do presidente Josué Montello.
As eleições para o biênio 96-97 acontecem no dia 7 de dezembro. Por enquanto, há apenas um candidato declarado: o imortal (como são conhecidos os membros da ABL) Antônio Houaiss, 80.
As articulações nos bastidores, no entanto, são muitas. Montello, autor de uma modificação nos estatutos da ABL que impede a reeleição por duas vezes consecutivas, estaria tentando mais uma modificação. Desta vez, para permitir a reeleição.
A intenção é estar no poder em 1997, ano do centenário da ABL. Com o segundo mandato, ele estaria, por força do estatuto, fora do poder nos próximos dois anos.
Antes de pensar na mudança do estatuto, o presidente da Academia pensou na candidatura de um aliado que cumprisse um "mandato-tampão": presidiria a casa em 1996, mas renunciaria em 1997, abrindo caminho para que Montello voltasse ao poder em 97.
O nome do imortal Alberto Venâncio Filho foi cogitado, mas a idéia não encontrou respaldo no próprio acadêmico. A intenção de Montello também esbarrou no fortalecimento da "ala esquerda" da ABL -formada por imortais como Antônio Callado, Dias Gomes, Darcy Ribeiro e o próprio Houaiss.
O fortalecimento ocorreu depois da polêmica premiação do livro do imortal Roberto Campos, "A Lanterna na Popa", no início do ano.
Campos levou o prêmio José Ermírio de Moraes -e um cheque de R$ 40 mil- mas os defensores da premiação ao livro "Chatô - o Rei do Brasil", de Fernando Morais saíram da disputa com um poder que não imaginavam ter.
Por isso, surgiu a candidatura Houaiss, que reúne os insatisfeitos com as manobras políticas de Montello -que, por exemplo, para garantir a premiação de Roberto Campos, criou um prêmio menor e indicou Morais para recebê-lo.
A Folha apurou que, depois da tentativa de criar a candidatura de Alberto Venâncio Filho, o presidente da ABL trabalha agora com duas hipóteses para a sua sucessão.
Convencer o poeta Lêdo Ivo, seu aliado na polêmica Roberto Campos versus Fernando Morais, a disputar as eleições e permanecer no cargo por apenas um ano.
A segunda hipótese: caso a candidatura Houaiss cresça, Montello pretende convencer o imortal Barbosa Lima Sobrinho, 98, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a entrar na disputa.
Com isso, Montello abriria mão da intenção de ser o presidente do ano do centenário.
Barbosa Lima teria chances de anular um candidatura "esquerdista". O argumento de Montello para convencer os acadêmicos dessa candidatura é que o jornalista e a ABL comemoram seu centenário em 97. Unir as duas comemorações seria interessante para a ABL.

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