São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Público consagra coreografia pós-butô

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MONTREAL

Saburo Teshigawara, símbolo da dança pós-butô no Japão, foi o preferido do público no Festival de Nouvelle Danse (Find), que se encerrou no último domingo em Montreal, Canadá, e cuja programação incluiu nomes vitais da coreografia contemporânea, como Anne Teresa de Keersmaeker e William Forsythe.
É a terceira vez que Teshigawara ganha o Prêmio do Público no Find. Embora tenha estudado com Kazuo Ohno, Teshigawara não tem identificações com o butô, que ele considera uma expressão de gerações passadas. "Minha dança deriva do presente, sem carregar o fardo do passado. Danço em direção a um tempo que ainda não chegou", diz.
Menos essência e mais forma, a dança de Teshigawara traduz um Japão antizen, elétrico, nervoso e num ambiente em que a natureza deu lugar à aridez tecnológica.
Teshigawara formou-se em belas-artes, mímica e balé clássico. Em 1985 fundou sua companhia de dança Karas, que em japonês significa "corvo". Paralelamente à atuação como coreógrafo, ele também trabalha como escultor.
No Find deste ano, o grupo Karas apresentou "Noiject", coreografia criada por Teshigawara em 1992 e cujo título é uma combinação das palavras "noise (barulho) e "object" (objeto).
Em "Noiject", não há música e sim uma sonoridade incômoda, feita de ruídos metálicos. A cenografia, também criada pelo coreógrafo, se compõe de paredes, piso e objetos construídos com lâminas de ferro. Um depuramento visual marca todo o espaço cênico que parece enclausurar a ação.
"Há quatro elementos básicos em 'Noiject': o dançarino, o ar, o chão e a música-ruído. Não existe hierarquia entre eles, todos têm igual valor", explica o coreógrafo, que define o espetáculo como um laboratório químico.
"Uma substância é acrescentada à outra, causando uma reação. Isto não significa que haja antagonismos entre a coreografia e a música, mas um tipo de experimento em que o bailarino faz parte".
Segundo Teshigawara, o piso em ferro irradia uma energia específica. O ar, embora invisível, também é tratado como um objeto. "Eliminei a música e criei um espaço onde o som em si e os corpos dos bailarinos pudessem se encontrar, como partículas que se chocam umas contra as outras".
Teshigawara excluiu emoções produzidas por música para criar movimentos gerados por relações físicas. "Se pensarmos o som não como alguma coisa com significado mas como partículas, nos tornamos capazes de realizar algo com qualquer tipo de som", diz.
Ao provocar reações com os "objetos que escolheu, Teshigawara pretende chegar a uma "fusão para transformar o espaço. "Para mim, dança é o movimento do corpo que se transforma qualitativamente no ar. A física da dança é matemática. Quando digo física não me refiro apenas ao sentido inorgânico do mundo, mas ao mundo espiritua".

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