São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Revolução e oposição

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O senador Roberto Freire (PPS-PE) faz uma análise crítica interessante a respeito da posição em especial do PT na questão das reformas propostas pelo governo.
Freire acha que o PT não incorporou o que ele chama de "lógica da revolução", muito entranhada nos antigos partidos comunistas (e não só do Brasil).
Entenda-se por tal lógica a predisposição para aceitar determinadas reformas mesmo quando propostas por partidos e/ou líderes ditos burgueses, desde que fossem, é lógico, consideradas um passo adiante no rumo da tal de revolução socialista sempre posta no horizonte desses partidos.
Já o PT, hoje o maior partido da esquerda brasileira, incorporou apenas o que Freire chama de "lógica da oposição". É contra o que propõe qualquer governo que não seja o seu próprio (e, às vezes, é bom lembrar, até o que propõem governos petistas).
É claro que sempre se pode entender que as propostas de reforma do governo Fernando Henrique Cardoso nada têm de "revolucionárias".
Mas ao fincar pé na rejeição não só das reformas em si, mas, às vezes, até de discuti-las pura e simplesmente, a impressão que o PT passa, bem como outros partidos ditos de esquerda, é a de defensores do status quo. Raciocínio, diga-se, que já não é do senador pernambucano.
Cria-se, com isso, uma insanável contradição. O PT e a esquerda em geral são, aliás com razão, os mais ferozes críticos do status quo. Mas opõem-se, simultaneamente, a qualquer mexida nele.
Se as reformas fossem todas, de fato, um profundo retrocesso, ainda vá lá. Mas, primeiro, é difícil haver ainda algum retrocesso em um país que chegou ao ponto de esculhambação conhecido. E, dois, há vários aspectos nas reformas propostas que poderiam ser perfeitamente discutidos pela esquerda, pelo menos com o objetivo de aperfeiçoar o proposto.
Não no rumo desejado pelo PT e pela esquerda em geral, já que a correlação de forças lhes é desfavorável, mas para aproximá-las da tal "lógica da revolução" exposta por Freire.

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