São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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A lista negra do governo

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Se colocasse o projeto de reforma administrativa em votação na última terça-feira, o governo seria batido com folga na Comissão de Constituição e Justiça. O placar registraria 30 votos contra a proposta de Bresser Pereira e apenas 21 a favor.
A comissão possui 51 membros: 12 da oposição e 39 de partidos governistas. Em tese, a reforma passaria fácil. O problema é que o Palácio do Planalto detectou a presença de 17 potenciais desertores em sua bancada. A lista não inclui o relator Prisco Viana (PPB-BA), o traidor-mor.
Foi a iminência da derrota que forçou o governo a manobrar em favor do adiamento da votação, transferida para a próxima terça-feira. Até lá, Fernando Henrique tentará seduzir os governistas traidores.
Em estado de alerta máximo, o Planalto mobilizou meia Esplanada. Enviou a alguns ministros documento confidencial em que pede empenho pessoal para tentar virar os votos rebeldes.
O texto foi datilografado em papel timbrado da Presidência da República. Nele estão arrolados os nomes de todos os 17 rebeldes. O documento foi estrategicamente preparado por Eduardo Jorge, secretário-geral da Presidência.
É no gabinete de Eduardo Jorge que está instalado o balcão em que os parlamentares negociam as nomeações de seus apadrinhados para os cargos de segundo e terceiro escalões.
De acordo com a lista negra do governo, cinco dos desertores integram o bloco PFL/PTB (Benedito Lira, Bonifácio de Andrada, Jair Siqueira, Roberto Magalhães e Vicente Cascione), seis são do PMDB (Gilvan Freire, Ivandro Cunha Lima, João Natal, José Luiz Clerot, Udson Bandeira e Albérico Filho) e seis compõem o PPB (Adylson Motta, Gerson Peres, Ibrahim Abi-Ackel, Jarbas Lima, Alcione Athayde e Valdenor Guedes).
A ação do governo expõe a maior contradição da administração pública brasileira. Para aprovar o seu projeto, o governo argumenta que a reforma administrativa é a única forma de modernizar o Estado. Mas está na dependência justamente dos votos dos partidos que têm contribuído para eternizar o atraso.
O presidente que agora prega a moralização da máquina pública entregou-se gostosamente à fisiologia no início de sua gestão. Os computadores controlados por Eduardo Jorge registram a farra da distribuição de cargos.

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