São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Os neobarnabés

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Na coluna de ontem juntei dois assuntos que aparentemente nada têm a ver um com o outro: o fim da estabilidade do funcionalismo e a reeleição dos atuais mandatários. Insisto na afinidade das medidas que formam o núcleo da cartilha neoliberal que pretende se eternizar no poder.
Apesar das brechas na legislação e nos bons costumes, está ficando cada vez mais difícil receber doações vultosas para as campanhas eleitorais. Note-se: não são os políticos que temem, por exemplo, as revelações feitas pelo suplemento Eleição S.A. publicado recentemente pela Folha. Político é mesmo cara-de-pau, desde que saia ganhando, ele acha que tudo é permitido. Os problemas são com os doadores, sensíveis ainda ao vexame e obrigados, em muitos casos, a prestar contas a seus sócios e acionistas.
Com a previsível diminuição do número das doações e da possível redução dos seus valores, a moeda mais à mão para azeitar a engrenagem eleitoral serão as nomeações. Evidente que os cargos de primeiro e segundo escalão continuarão sendo leiloados na velha base. Mas campanha eleitoral, num país imenso como o Brasil, envolve muita gente que precisa ser lubrificada com um agrado -além dos tapinhas nas costas.
O funcionalismo público, inchado como está, consumindo a maior parte das receitas municipais, estaduais e federais, precisa ser "reformado". Não é simples coincidência o fato de o caixa da campanha eleitoral de FHC ser hoje o promotor dessa reforma que abrirá imensos claros no quadro operacional do poder, estabelecendo ao mesmo tempo o princípio "seletivo" para o preenchimento desses mesmos claros.
A mágica é tão besta quanto primária -o pleonasmo se aplica. Daí a aflição do governo em preparar o terreno para 1998. Sabe que terá de nomear milhares e milhares de parentes, amigos e cabos eleitorais dos que votarão a favor da reeleição. Quem tiver ou tirar carteirinha do PFL e do PSDB poderá desde já se considerar um neobarnabé.

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