São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Marco Polo. Mao e Deng forjaram imagem da China entre ocidentais

DA REDAÇÃO

Após décadas de apoio a movimentos revolucionários no exterior e rompimento com a URSS, a China buscou na década de 1970 uma aproximação maior com o Ocidente, notadamente os EUA.
A "Diplomacia Pingue-Pongue" e as visitas dos americanos Henry Kissinger (secretário de Estado) e Richard Nixon (presidente) iniciaram uma alteração na imagem chinesa que se consolidaria anos depois. A China começou a ser vista como possível parceira econômica e, até mesmo, política.
O culto à personalidade promovido por Mao chegou a extremos de, nas vésperas de sua morte, ele tomar um banho de rio para provar que estava com boa saúde.
Morto o líder em setembro de 1976, a disputa pelo poder se encerrou dois anos depois com a vitória de Deng.
No caminho, derrotou a Camarilha dos Quatro, liderada pela viúva de Mao, Jiang Qing, e o premiê interino Hua Guofeng e sua facção "qualquer coisa" -nome dado por sua devoção pública a qualquer ato ou pensamento de Mao.
As reformas econômicas de Deng forjaram a imagem atual da China no Ocidente: liberalismo econômico e conservantismo político resumidos no slogan "economia socialista de mercado".
A primeira demonstração desse liberalismo de Deng apareceu em julho de 1962: "Não importa se o gato é amarelo ou preto, desde que ele pegue o rato".
Mas a mesma ocasião mostrou o pragmatismo do futuro líder. Ao saber que Mao reiterara a defesa da coletivização da agricultura, Deng mandou mudar os registros do discurso e acrescentar seu apoio à proposta de Mao.
O maior exemplo de fechamento político foi o massacre da praça Tiananmen, em junho de 1989. Em 15 de abril, milhares de estudantes começaram a se concentrar na praça pequinesa num protesto pela democracia e contra a corrupção e a inflação.
Em 4 de junho, tropas retomaram o controle da praça. Para a oposição, mais de 3.000 pessoas morreram na ocasião.
Na repressão que se seguiu ao massacre, milhares de pessoas foram presas e centenas, executadas.
Durante as quatro semanas da visita, o líder chinês defendeu a ampliação dos investimentos capitalistas no país.
Para o cientista político Richard Baum, o objetivo da viagem era demonstrar que desenvolvimento como o alcançado por essa região era a única alternativa a uma desagregação de estilo soviético.
Outro motivo seria reafirmar sua reputação de estadista e reformista, manchada pelo massacre de 1989, segundo o autor de "Burying Mao; Chinese Politics in the Age of Deng Xiaoping" (Enterrando Mao; a Política Chinesa na Era de Deng Xiaoping).
Juntos, o massacre de Tiananmen e a viagem ao sudeste mostraram claramente a consolidação do poder de Deng.
A partir daí, o líder passou a definir os termos de sua sucessão. Atualmente, os principais candidatos ao posto de Deng são o presidente Jiang Zemin e o primeiro-ministro Li Peng.

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