São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995 |
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Porta-voz aponta desconfiança recíproca
DA REPORTAGEM LOCAL O porta-voz da Presidência da República, Sergio Amaral, disse ontem que a crítica constante dos órgãos da mídia aos governos "é uma prática que vem se configurando como normal nas democracias modernas".Amaral foi o palestrante do painel "Imprensa e Governo" no 2º Fórum Folha. Para Amaral, há várias razões para esse criticismo da mídia em relação a governos. Citou como "um divisor de águas" nos EUA o caso Watergate -que culminou com a renúncia do então presidente Richard Nixon. No Brasil, Amaral disse que "20 anos de autoritarismo deixaram marcas", referindo-se ao período do regime militar instaurado em 64 -que censurava a mídia. "Há uma desconfiança recíproca. Para o governo, a imprensa distorce e cria armadilhas. Para a imprensa, o governo sempre tenta esconder informações", disse o porta-voz do presidente Fernando Henrique Cardoso. Amaral terminou sua exposição com uma metáfora. Disse que sempre há duas formas de descrever um copo com água até a metade: "Para alguns estará meio cheio. Para outros, meio vazio". Disse que a imprensa fará seu trabalho melhor descrevendo a parte vazia e a parte cheia do copo, referindo-se aos aspectos positivos e negativos de um governo. A palestra de Amaral foi moderada pelo diretor-executivo da Sucursal de Brasília da Folha, Josias de Souza. Os comentadores da palestra foram os colunistas da Folha Luís Nassif e Arnaldo Jabor. Nassif e Jabor fizeram referências à metáfora do copo usada por Amaral. Nassif disse que a imprensa tem um comportamento "pendular", para não permitir excessos de poder. "Num certo momento, o sindicalismo do ABC foi saudado como algo positivo pela imprensa. Depois, quando começou a ter muito poder, esse sindicalismo passou a ser criticado", afirmou Nassif. Para Nassif, "cabe à imprensa dar vazão às reclamações, à chiadeira, de todos os setores da sociedade". E o governo entenderia isso como crítica porque, muitas vezes "por malícia", apenas ignora os problemas para não enfrentá-los. Arnaldo Jabor começou seu comentário citando a metáfora usada por Amaral. "Se um copo está agora com água pela metade, o importante é saber como estava antes: cheio ou vazio", disse. Jabor disse que o governo FHC "não é muito bom para a notícia" por não gerar fatos equivalentes aos de outras épocas. Amaral afirmou que é necessário fazer uma distinção: "O jornalismo econômico se especializou e é diferente do jornalismo político, que é muito mais impreciso". Para Amaral, as dificuldades da imprensa também decorreriam do fato de "este governo não querer ser populista e nem espetacular". Entre as perguntas que recebeu do público, o porta-voz da Presidência foi questionado sobre a "promiscuidade" que existiria entre o governo e "certos" órgãos de imprensa. Amaral respondeu que existiu, "no passado", uma proximidade entre outros governos e alguns órgãos da mídia. Texto Anterior: Lei de Imprensa elimina penas de reclusão Próximo Texto: OPINIÃO Índice |
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