São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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'Não basta superar a concorrência'

A seguir, a íntegra da fala do presidente da Empresa Folha da Manhã S/A, Luís Frias, ao encerrar o 2º Fórum Folha de Jornalismo e Mídia.

Senhoras e senhores, Estamos chegando ao final do 2º Fórum Folha de Jornalismo e Mídia. Em nome do Grupo Folha gostaria de agradecer a presença de todos aqueles que participaram deste encontro.
O mundo das comunicações está passando por uma profunda transformação, como ficou evidenciado nestes dois dias de discussões. Essas transformações impulsionarão a diversificação das operações em comunicação dos grupos da mídia. Diversificar será obrigatório não apenas pela necessidade de crescer, como também devido ao novo denominador comum chamado bit.
Assim como a companhia telefônica brevemente só carregará bits, os mesmos bits estarão transportando o filme de entretenimento do estúdio americano e a história jornalística mais exata, completa e concisa produzida pelo mais prestigiado órgão de imprensa no futuro. O bit será a base comum para toda comunicação: jornal, TV, rádio, dados, telefone. Computação, telecomunicações e mídia estarão convergindo para uma mesma base de distribuição. A necessidade da economia capitalista de crescer para sobreviver só fica mais acentuada em um setor como o das comunicações, por atravessar um período de mudanças estruturais sem antecedentes.
A questão que se coloca às empresas de comunicação que tiveram sua origem no jornalismo e que ainda hoje possuem grandes operações no mercado editorial de formação de opinião é como conciliar a independência editorial de suas publicações a essa necessidade inarredável de crescimento. Como não cair na tentação de subordinar a autonomia editorial das publicações aos interesses de crescimento do grupo?
Nosso entendimento é o de que a experiência Folha revela a possibilidade de superação desse conflito. Este século mostrou que é saudável para o capitalismo a existência de uma imprensa livre. Na verdade, as experiências de jornalismo mais independente, crítico e investigativo prosperaram nos mercados onde o capitalismo alcançou seu mais alto grau de desenvolvimento. Ou, se preferirem, as economias capitalistas que atingiram a maturidade, sem exceção, não deixaram de gerar uma imprensa forte e autônoma. É nisso que acredita o Grupo Folha. Vamos crescer enquanto grupo mantendo a completa independência do jornal. Isso é fundamental para qualquer publicação que queira a liderança no mercado de formação de opinião (não importa qual seja o meio de distribuição) e é saudável para o desenvolvimento do grupo como um todo.
Independência editorial, pluralismo, criticismo, exatidão e completude, nunca essa síntese de projeto editorial foi tão atual quanto hoje. Ainda se trata de fazer tudo isso aliado a um texto bem-escrito e ao melhor serviço e entretenimento.
No caso específico da Folha, mais vale radicalizar sua autocrítica como mecanismo permanente de evolução do que constatar a capacidade da concorrência de assimilar seus acertos. Para quem quer ser o primeiro não basta querer ser melhor do que o segundo. É preciso lutar para produzir amanhã um produto melhor do que o de hoje. O concorrente passa a ser o produto feito hoje. É preciso batê-lo, vencê-lo, fazê-lo melhor amanhã.
Para concluir, gostaria de falar algumas palavras sobre fascículos: eles são um sucesso extraordinário no Brasil e significaram um crescimento impensável nas circulações pagas.
No caso do Grupo Folha, foram autofinanciados pelos próprios recursos que geraram e nunca significaram realocação de recursos antes destinados às Redações. Na Folha de S.Paulo, sempre foram escolhidas as melhores e mais sofisticadas obras de referência. O atlas histórico Folha/"The Times, cuja coleção encerra-se ainda neste mês, em termos de qualidade, está mais próximo dos chamados "textos de fundo do jornal do que daqueles que poderíamos classificar de entretenimento. Os fascículos de obras de referência consagradas são uma evidência de que ainda é possível crescer e de que vale a pena investir na qualidade das publicações. Muito obrigado.

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