São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Integrantes da CCJ criticam pressões feitas pelo Planalto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão do presidente Fernando Henrique Cardoso de impor a seus aliados o voto favorável ao projeto de reforma administrativa acirrou os ânimos contra o governo na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Bate-bocas entre os deputados, críticas ao presidente, um pedido de interpelação oficial de FHC e manifestações de solidariedade ao presidente da CCJ, Roberto Magalhães (PFL-PE), ocuparam toda a sessão de ontem da comissão.
"Ao rei tudo, menos a honra, disse Magalhães, em resposta às ameaças feitas por FHC, repetindo a frase do ex-deputado Djalma Marinho. O pefelista se opõe à proposta do governo de pôr fim à establidade do funcionalismo.
Anteontem à noite, durante reunião com os líderes governistas, FHC anunciou a disposição de retaliar os aliados que votarem contra a proposta de quebra da estabilidade dos funcionários públicos.
O presidente teria mandado o seguinte recado a Magalhães: se ele quiser se eleger prefeito de Recife, deve procurar o apoio do PT e do governador Miguel Arraes (PSB). FHC também teria ameaçado demitir o secretário de Políticas Regionais, Cícero Lucena.
O senador Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB) chegou cedo à CCJ para demonstrar solidariedade aos seus conterrâneos. "Não acredito que o presidente tenha feito ameaça. Da mesma forma, eu poderia responder que o voto que é sim pode ser não", afirmou o senador.
O líder do governo da Câmara, deputado Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), tentou assumir o papel de bombeiro. Logo que chegou à CCJ, procurou os paraibanos para desmentir as declarações do presidente. Fez o mesmo com o deputado Roberto Magalhães.
No plenário da comissão, com jornais na mão, Santos afirmou que todas as declarações atribuídas a FHC e as supostas negociações com ruralistas em troca de votos eram mentirosas. Invocou o testemunho do deputado Ivandro Cunha Lima (PMDB-PB), que recebeu um telefonema do presidente na noite da reunião.
Os integrantes da CCJ retrucaram os comentário de Santos e reafirmaram a versão da reunião divulgada pela imprensa.
"Deve ser um movimento orquestrado, um golpe da imprensa. Vamos contratar os jornalistas para reescrever Maquiavel", ironizou Alexandre Cardoso (PSB-RJ).
O deputado Milton Temer (PT-RJ) liderou um pedido de interpelação de FHC pela Procuradoria da Câmara para saber se ele confirma ou não as declarações.
O procurador Bonifácio de Andrada (PTB-MG), membro da CCJ, disse que o requerimento não tinha fundamento técnico.
"Como homem político, o presidente pode criticar quem ele quiser. Quem se sentir ofendido que o processe", disse Bonifácio. "Tão duro com os Paralamas e tão doce com o presidente", interrompeu Marcelo Déda (PT-SE).
Foi uma referência ao pedido de censura de Bonifácio à música "Luiz Inácio e os 300 picaretas" do grupo musical Paralamas do Sucesso. A letra fazia alusão a críticas ao Congresso feitas pelo líder petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Vocês não me assustam', gritou o procurador, inúmeras vezes.

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