São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Senado da Itália demite ministro que atacou juízes

DO "THE INDEPENDENT"

O Senado italiano decidiu ontem afastar o ministro da Justiça, Filippo Mancuso. Ele vinha sofrendo pressões da esquerda para renunciar devido a seu combate aos juízes do país.
Como ele decidiu não deixar o governo, o Senado realizou uma votação de censura individual. O resultado foi 173 votos contra Mancuso, 3 a favor e 8 abstenções (que na prática significam "não").
O primeiro-ministro Lamberto Dini assumiu interinamente o cargo. Ele já ocupa também o cargo de ministro do Tesouro. O presidente Oscar Luigi Scalfaro empossou Dini e cancelou uma viagem a Nova York, por causa da crise.
O ex-ministro, um jurista de 74 anos, causou tumulto no Parlamento ao acusar o presidente Oscar Luigi Scalfaro e o premiê Lamberto Dini de participarem de uma conspiração para proteger os juízes.
A crise pôs em risco o governo de Dini, porque a demissão de um ministro é praticamente impossível pelo Parlamento. O voto de desconfiança individual é o primeiro desde 1890.
Segundo Mancuso, os juízes da Operação Mãos Limpas (contra corrupção) têm usado métodos ilegais para extrair confissões.
Durante todo o processo, Mancuso recebeu o apoio de Silvio Berlusconi, o empresário e ex-premiê que ainda mantém boa parte de seu prestígio eleitoral. A maior parte da aliança de Berlusconi não participou da votação no Senado.
O próprio Berlusconi sente o que Mancuso chama de "excessos" do Judiciário italiano. Ele está sendo investigado pela acusação de que suas empresas pagaram propinas a fiscais.
Giulio Maceratini, do grupo Aliança Nacional (neofascista), disse que seu partido considera a votação "radicalmente nula", por ser "um modo aberrante de interpretar a Constituição". Para ele, Mancuso só poderia deixar o cargo junto com todo o gabinete.
Para Mancuso, os juízes fazem prejulgamentos, abusam de sua autoridade ao divulgar à imprensa documentos secretos e abandonam o princípio jurídico da presunção da inocência.
O ministro disse que o premiê age de má-fé por ter retirado seu apoio às críticas contra o Judiciário em um momento que, segundo Mancuso, elas se tornaram "politicamente inconvenientes".
Dini disse, por meio de seu porta-voz, que não responderia a provocações. Ele acusou o ministro de não respeitar o caráter de colegiado de seu governo -isto é, recusar-se a deixar o gabinete.
Todos os juízes acusados por Mancuso de abuso de autoridade foram absolvidos até agora.

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