São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Premiê é pressionado à reeleição

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Ao contrário de sentir-se acuado pela crise em que seu governo está mergulhado, o premiê espanhol, Felipe González, diz estar sendo "muito pressionado" para candidatar-se a uma quarta reeleição.
O presidente do governo (nome oficial de seu cargo) disse à Folha, após o jantar que lhe foi oferecido anteontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que a pressão vem não apenas de seu partido, mas também de outros setores, inclusive empresariais.
Deu a entender que o empresariado espanhol teme a instabilidade decorrente de uma campanha eleitoral em que ele não se apresente como candidato.
O peso da crise já obrigou González a antecipar para março de 1996 uma eleição que, em condições normais, só ocorreria em 1997, quando termina o período de quatro anos do governo eleito em 1993, na quarta vitória consecutiva do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), do qual González é o secretário-geral.
O premiê está sendo acusado de acobertar crimes praticados por um grupo paramilitar (os GAL, sigla de Grupos Antiterroristas de Libertação), responsáveis pela morte de 27 militantes da organização separatista basca ETA.
No mesmo dia em que jantava com FHC no Palácio da Alvorada, em Madri o Senado decidia iniciar investigação sobre os crimes.
À pressão que diz estar sofrendo na Espanha para candidatar-se, somou-se, durante o jantar, a da filha de Fernando Henrique.
FHC disse que acabara de receber telefonema dela, pedindo-lhe que transmitisse a González um apelo para que fosse candidato. A filha (FHC não disse qual) até se comprometia a votar em González.
"Pelo menos um voto eu já tenho", brincou o premiê.
González não chegou a dizer se vai ou não ser candidato, mas emitiu vários sinais de que pretende concorrer de novo.
Cometeu até o que pode ser mera coincidência -mas que pode ser também ato falho.
Lembrou que só poderá voltar a presidir a UE (União Européia) dentro de uns 12 anos. Só os chefes de governo de cada um dos 15 países-membros da UE presidem o conglomerado, em sistema rotativo, a cada seis meses.
Como González é o presidente da UE no segundo semestre deste ano, só poderá voltar a sê-lo dentro de sete anos. Mas, até lá, outros países terão sido incorporados à UE, o que justifica o prazo de 12 anos por ele mencionado.
Só depois é que o premiê corrigiu o poderá para o condicional "poderia".
Nas rodinhas que se formaram após o jantar, González mencionou idéias e projetos, tanto para a Espanha como para a integração UE/Mercosul, que demandam tempo para concretizar-se.
Nenhum deles, com certeza, estará pronto em março, quando González deixa o governo, se não se candidatar. Ou, é claro, se perder a eleição, sendo candidato.
Na única alusão à crise, assim mesmo tangencial, González disse que "a Espanha periodicamente tem necessidade de imolar alguém na fogueira, para que todos se sintam purificados".

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