São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Ingleses do Blur se equilibram entre virtuosismo pop e populismo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

"The Great Escape", o quarto disco dos ingleses do Blur, recém-lançado lá fora (e sem previsão no Brasil), é mais uma demonstração do poder influenciador dos Beatles sobre a banda.
Se John, Paul, George e Ringo formaram o grupo pop mais importante do mundo nos anos 60, o natural é que o Blur tenha boas chances para os anos 90.
Não é bem assim, entretanto. O mundo hoje parece impermeável a quaisquer mitos que não o da velocidade. Grupos como Suede, Stone Roses e equivalentes passaram a jato, como deve acontecer -se já não aconteceu- com a dupla rival Blur/Oasis. Méritos e deméritos pouco têm a ver com os fatos.
No caso presente, duas bandas espertamente dotadas de poder de marketing tomam a mídia para disputar o posto de "a banda mais popular". Sabe-se que nenhuma delas é a melhor, mas não importa.
Blur, para além da evidente influência Beatle -deve ser a banda que armazena mais refrões "la la la" ou "na na na" por centímetro cúbico de canção desde os reis do "yeh yeh yeh"- é eficiente e poderosamente pop.
Canções como "Stereotypes" e "Country House" são de ouvir e sair cantando, como já o eram "Girls and Boys" (de "Parklife", disco de 94) ou "For Tomorrow" (de "Modern Life is Rubbish", 93).
O grupo chega a tocar as raias do brilhantismo, em faixas como a giratória "Fade Away" e a romântica "Yuko & Hiro", que acabam mascaradas pelo pop populista do todo e pela voz de Damon Albarn, um pouco enjoativa pelos excessos.
O todo, no entanto, é manchado por boa dose de cultura dos anos 80 reprocessada, com sombras desde Echo & The Bunnymen e Cure até Culture Club revestindo a beatlemania. Os anos 80 não são exatamente modelo de perfeição pop, e que amplia o telhado de vidro do Blur.
Sobram, além das canções menos populistas, as imagens pop criadas, desde o primeiro disco ("Leisure", 91), em capas (a atual é decalque da de "Republic", do New Order) e encartes e um conjunto de letras superior ao de qualquer outro trabalho do grupo.
Se antes seus discos pareciam tomados por montes de canções sobre assunto algum, os garotos começam a se revelar mais firmemente como cronistas do cotidiano urbano de uma Inglaterra pós-industrial -de qualquer cidade grande, por consequência.
Resta saber se, méritos e deméritos à parte, o grupo sobrevive e evolui, ou se será mais um tragado no turbilhão da velocidade.

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