São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Congresso internacional em Gana discute o papel da literatura oral

LÚCIA NAGIB
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Costuma-se dizer que quando, na África, um ancião morre, é uma biblioteca inteira que se queima. Com ele se perde um patrimônio cultural transmitido de geração a geração por via oral e preservado apenas na memória individual, que já não encontram sucessores.
No entanto, só recentemente a tradição oral de povos de origem não-letrada vem sendo encarada com seriedade pelas academias.
No sentido de reforçar a relevância desse estudo, especialmente nas sociedades contemporâneas, realiza-se, entre 24 e 30 de outubro, o 2º Congresso Internacional de Literatura Oral, na Universidade de Gana, em Acra.
"Literatura Oral e a Academia" será justamente o tema do presente congresso, que contará com a participação de 68 professores universitários de 11 países africanos, além de países como Estados Unidos, Brasil, Austrália e Japão.
A maior parte das discussões se concentrará na África, com seus "griots" e outros múltiplos narradores orais, sua riqueza de provérbios, de orações que apontam a origem de famílias e cidades, de canções que revelam desde as dores do migrante à discriminação das mulheres.
Mas a variedade de nações participantes demonstra que a tradição oral continua sendo um forte reservatório cultural, mesmo nos países de baixo analfabetismo.
Como participante do Brasil, apresentarei um trabalho sobre Glauber Rocha e o uso que ele faz do cordel e outras formas de literatura oral do nordeste brasileiro (inclusive as de origem africana).
A relação entre a literatura oral e a mídia motivará um dos grupos de estudo do congresso, que termina com um "workshop" a cargo do cineasta ganense, Kwaw Ansah, autor do premiado "Heritage Africa", que (como é costume nas artes africanas) faz uso da tradição oral de seu país.
A organização do congresso, a cargo do poeta Kofi Agovi, ressalta que o estudo da literatura oral não deve constituir uma atitude nostálgica com relação a uma tradição passada, hoje destinada ao museu, mas uma reinterpretação que concilie a informação da mídia moderna com as noções igualmente multimediáticas encontradas nas performances orais.
Porque a narração oral não se dá apenas como discurso verbal, mas também como dança, teatro, canto e arranjos instrumentais. É essa adequação ao moderno que pretendem provar narradores e "performers" que se exibirão no evento.

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