São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Safras erráticas

A previsão da Conab de que a safra de grãos de 1995/96 será menor do que a deste ano em 4,6% a 9,1% talvez seja menos assustadora do que a impressão deixada pelos protestos de agricultores. Mas mostra que a produção foi de fato afetada pelo pesado custo decorrente das altas taxas de juros. Trata-se ademais de um dado negativo do ponto de vista do controle da inflação.
A relativa estabilidade do valor da cesta básica tem estado na base da manutenção do poder de compra dos salários mais baixos e, assim, também da relativa moderação das pressões salariais.
Segundo pesquisa do IBGE de 1990, 27% das famílias brasileiras têm rendimento inferior a dois mínimos e esse percentual sobe para 75% se forem somadas também as famílias cujo rendimento chega a até dez mínimos.
Uma grande oferta de produtos agrícolas ganha, assim, ainda maior influência no controle da inflação já que largas parcelas da população com baixo poder aquisitivo têm na alimentação um dos principais itens de gasto. Se o preço dos alimentos pouco ou nada sobe, as demandas por aumentos salariais tendem a ser bem menores. E isso ajuda a conter a espiral de salários e preços que impulsionaram as desastrosas inflações dos últimos anos.
Mesmo em face da importância da agricultura o Brasil ainda não conseguiu construir um sistema consistente de financiamento do setor. Seja de parte do governo, seja dos representantes da agricultura, o debate ainda parece calcado de modo precário nas circunstâncias e negociações de cada safra.

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