São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Muita emoção para pouco

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Parece estar havendo algum exagero no empenho com que, de um lado e do outro, se discute a reforma administrativa. As energias e o verbo nela empregados não são compatíveis, à primeira vista, com as respostas lógicas às duas perguntas óbvias que deveriam ser feitas a respeito.
Pergunta 1 - Se a reforma sumir pelo ralo, como parece pretender o relatório do deputado Prisco Viana, fica tudo bem? Até as pedras sabem que não.
Pergunta 2 - Se, ao contrário, for aprovada a reforma tal como proposta pelo governo, a pátria estará salva ou, ao menos, encaminhada para o radioso destino de que ouço falar desde criancinha?
Nem o governo, nos momentos de maior sinceridade, seria capaz de responder que sim.
Basta lembrar que o ministro Bresser Pereira, obrigado por dever de ofício (além de convicção íntima) a considerar a sua reforma da maior importância, tem dito com frequência que o Plano Diretor por ele em fase final de elaboração é mais importante do que a reforma em si.
Ou, no mínimo, que, sem o plano, a reforma ficará capenga.
Apesar dessas respostas lógicas a perguntas essenciais a reforma administrativa parece ter se transformado em mais um desses jogos de tudo ou nada entre governo e oposição.
Com a única diferença de que nem todos os da oposição estão no íntimo convencidos de que a aprovação da reforma conduzirá o país ao último dos infernos e nem todos os parlamentares governistas acreditam no efeito milagroso da reforma.
Mesmo assim, engalfinham-se todos na discussão com o vigor de quem parece achar que ou o governo cai se a reforma não passar pela Comissão de Constituição e Justiça ou que, passando, um mundão de funcionários públicos estaduais, federais e municipais será fuzilado na primeira curva da esquina.
Sei, não, mas desconfio que tanta energia e tanta emoção poderiam ser canalizadas para discussões mais relevantes. Que o Estado precisa de uma faxina geral, lá isso precisa. Mas se está perdendo a perspectiva de qual é, enfim, a finalidade última da faxina e do que se vai fazer, afinal, com um Estado reformado (ou não).

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