São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Rainha mora de graça em casa do governo

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL AO PONTAL DO PARANAPANEMA

José Rainha Júnior, 35, o líder dos sem-terra do Pontal do Paranapanema, mora de graça em casa cedida pelo governo do Estado de São Paulo, em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de SP). Paga apenas água e luz.
O líder do MST vive na casa há pouco mais de um ano, apesar de ter quatro hectares de terra no assentamento da fazenda São Bento, sede do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Sandovalina, cidade vizinha.
Nesse lote, ele próprio não planta nada. Nem ergueu casa. "Não tenho tempo porque faço o trabalho de organização do movimento", reconhece Rainha.
"Antes de morar em Teodoro, eu morava no assentamento, onde, até hoje, eu fico a maior parte do tempo", diz. Rainha é casado com Deolinda Alves de Souza, 25, e tem um filho, João Paulo, 2.
A casa, verde e branca, fica na rua Passeio Ingá, 29, no Jardim Minas Gerais. O bairro, com 414 casas, existe desde 82 e foi erguido pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo) para abrigar técnicos e engenheiros das obras da hidrelétrica de Taquaruçu.
Hoje, com a usina quase concluída, a empresa quer vender as casas. Rainha admite que já integra a lista dos interessados em comprar um imóvel da estatal.
A cessão da casa a Rainha foi intermediada pelo deputado estadual Mauro Bragato (PSDB-SP), amigo do líder do MST, que tem na região sua principal base eleitoral. Foi o mais votado no Pontal.
A pedido de Rainha, em março de 94, o deputado enviou carta ao engenheiro residente de obras da Cesp Décio Caminhoto (demitido neste ano da empresa), pedindo uma casa no Jardim Minas Gerais.
Décio é irmão do ex-prefeito de Teodoro Sampaio Gerson Caminhoto (PMDB), eleito em 92 e cassado pela Câmara Municipal em setembro de 95, sob acusação de irregularidades administrativas.
Na carta, Bragato esclarece a razão pela qual seu pedido deve ser atendido: "Terá importante repercussão no trabalho que desenvolvo junto às comunidades do Estado".
Obedecendo a formalidades, o ex-prefeito de Teodoro Sampaio pediu a liberação de uma casa à Cesp como se fosse para uso de "funcionário do Itesp" (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). Em 7 de junho, Décio Caminhoto enviou ofício ao irmão prefeito, avisando que a casa nº 29 estava sendo cedida provisoriamente.
Procurado pela Folha na última sexta-feira, Bragato disse que o pedido da casa ocorreu porque "Rainha estava sofrendo ameaças de morte no Espírito Santo e no Paraná. São Paulo é seguro".
Segundo o deputado, o processo recebeu aval do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB) durante visita à região.
Em nome de Rainha, a conta de luz de março do sobrado foi de R$ 5,03. Nela constava pedido da Cesp para que ele pagasse a conta vencida de fevereiro. O presidente da Cesp, Andrea Matarazzo, informou que os funcionários que moram em vilas da empresa pagam, a título de aluguel, até 10% do salário para usar o imóvel.

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