São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Mao, Che e Cristo decoram as paredes

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL

Retratos do líder comunista Mao Tse-tung (1893-1976), cada vez mais raros na China, estão em alta na casa de José Rainha e sua mulher, Deolina Alves de Souza.
Na sala há três imagens de Mao, uma do guerrilheiro argentino Che Guevara (1928-1967), outra de seu único filho, João Paulo, e um crucifixo.
Chamando ela própria a atenção para os retratos do líder comunista chinês, Deolinda faz um trocadilho: "Não nos leve a Mao". E dá um sorriso maroto. Há cerca de dois anos, Rainha, simpatizante do PT, visitou a China a convite do governo daquele país.
Mao Tse-tung liderou a revolução comunista chinesa, em 1949, a partir do levante dos camponeses, consolidando uma nova estratégia política entre esquerdistas: o cerco das cidades pelo campo. O casal admira tanto o "grande timoneiro" chinês que até no quarto existe um pôster de Mao.
A casa é um sobradinho geminado simples, pequeno e simpático, feito de madeira e fibra sintética. O mercado avalia o imóvel em R$ 10 mil. A região do Pontal tem visto a população emigrar para outras cidades, razão pela qual os imóveis estariam perdendo valor.
Na parte inferior da casa, há garagem, sala (com dois sofás e uma estante), cozinha, banheiro e pequena área de serviço. No segundo piso existem três quartos.
O casal Rainha dispõe de todos os bens característicos de uma família de classe média: televisão, antena parabólica ("doada por um padre", diz Deolinda), aparelho de som ("de segunda mão", adverte ela), geladeira, máquina de lavar e telefone ("quem paga as contas é o MST", avisa a mulher). O resto foi comprado a prazo, segundo Deolinda.
Na estante da sala, entre outros livros, há uma biografia de Mae West (1888-1980), escritora e polêmica atriz norte-americana.
Há também uma biografia do líder chinês Chou En-Lai (em espanhol), uma coletânea de artigos no livro "Uma Foice Longe da Terra" (Editora Vozes) e "Evangelização no Presente e no Futuro da América Latina - Conclusões de Puebla", um dos principais textos da Teologia da Libertação.
Uma caminhonete Chevrolet D-20 fica sempre à porta. Comprada há dois anos por R$ 17,5 mil, o veículo pertence a Valdomiro Lopes, 40, funcionário há 17 anos da fazenda Haroldina, na cidade de Sandovalina. "Sou amigo da família", diz Lopes. A D-20 é usada por Rainha. Quem paga a gasolina é o MST.

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