São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Família supera divergências no templo do samba carioca

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Católica, a moradora mais famosa do morro da Mangueira, templo do samba carioca, Dona Zica, viúva do compositor Cartola, ficou chocada com Sérgio Von Helder.
O bispo, da Igreja Universal do Reino de Deus, chutou na TV uma imagem de Nossa Senhora.
Mas a atitude do bispo não foi suficiente para quebrar a harmonia entre Dona Zica, seu neto, Pedro Paulo Nogueira, 35, e a mulher de Pedro, Elisângela, fiéis da Igreja Universal.
A casa de Dona Zica é um símbolo da convivência fraterna entre pessoas de igrejas diferentes. Ali, no famoso morro da zona norte, moram três católicos e dois pentecostais da Universal.
"Minha avó tem adoração à imagem, à escultura. Eu respeito, não contesto a maneira de exercer sua fé", diz Nogueira, cuja igreja rejeita a adoração de imagens.
Ele mora na mesma casa com a mulher, a avó, a mãe (a católica Regina) e a irmã (a também católica Nilcemar).
Com a atitude do bispo da Universal, criou-se um clima tenso na casa, principalmente por parte de Regina e Nilcemar. "Ficou um pouco difícil para elas entender", afirma Nogueira.
Mas a disputa religiosa não foi adiante porque as críticas recaíram sobre a pessoa de Von Helder -e não sobre a Igreja Universal como um todo. O próprio Nogueira diz que o bispo errou.
"Ele deveria ter se comportado com mais amor às pessoas que adoram a imagem", afirma o neto de Dona Zica. "A minha avó teve um choque com isso. Eu não discordei dela."
Convertido há sete anos à Igreja Batista Nacional Ebenezer, Nogueira passou a frequentar a Universal da Mangueira há três meses, deslumbrado com seu trabalho de evangelização.
Nogueira exemplifica o processo de conversão religiosa às igrejas evangélicas, que é maior nas regiões mais pobres do município, segundo o Censo Institucional Evangélico (1992).
Enquanto na zona sul e no bairro da Tijuca (zona norte) era de 6,62% o percentual de moradores convertidos, nas áreas menos nobres do centro e da zona norte esse índice batia em 10,16%.
Na zona oeste e em outros subúrbios mais periféricos, o percentual aumentava para 18,12%.
Segundo Nogueira, não há como as católicas de sua casa criticarem sua opção religiosa, porque sabem como sua vida se transformou desde que se converteu.
Quando era um católico "sem muita frequência", ele "bebia muito, andava muito nas orgias e usava drogas".
"Jesus Cristo transformou minha vida através do poder da oração", diz. A mãe ficou feliz com sua opção. "Se fosse necessário, eu ia junto pra igreja dele, pra ele se salvar", afirma.
"Mas, graças a Deus, não foi preciso eu ir para uma religião que não era a minha. Respeito sua opção, mas é ele na igreja dele e eu na minha."

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