São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Universal cresce na BA chamando culto afro de "ritual do demônio"

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

A força e a influência dos cultos afro-brasileiros na Bahia não impediram também no Estado o avanço da Universal.
Mesmo afirmando em suas pregações que Candomblé e Umbanda são "rituais do demônio", a Igreja Universal do Reino de Deus teve na Bahia um maior desenvolvimento do que em qualquer outro Estado do Nordeste.
Hoje a Universal tem 150 templos na Bahia, segundo o bispo Jorge Cunha, principal líder da igreja no Estado. Possui também sete emissoras de rádio, sendo duas FM e cinco AM.
Na política, a igreja conta com o deputado federal Luís Moreira e a deputada estadual Zelinda Novaes, ambos do PFL, além de dois vereadores em Salvador (BA).
No último dia 7 de outubro, a Universal inaugurou a "Catedral da Fé", uma área de 8.000 m2 no bairro do Iguatemi, um dos pontos comerciais mais valorizadas de Salvador. Vizinho à catedral fica o Shopping Iguatemi, o maior centro de compras da cidade.
"Nós queremos ter nessa área um templo com capacidade para mais de 10 mil pessoas", diz o bispo Cunha.
Também está prevista no local a construção de uma sede administrativa para a igreja e de um seminário para formação de pastores e bispos. Por enquanto, funciona apenas um templo.
"O crescimento da Igreja Universal não está sendo feito sobre os praticantes dos cultos afro, mas sim sobre os fiéis da Igreja Católica", afirma o antropólogo Júlio Braga, especialista em cultura afro-brasileira.
A política usada pela Igreja Universal para crescer na Bahia é apropriar-se de características típicas da vida das pessoas que vivem no Estado.
Ela usa, por exemplo, a música baiana. Algumas das músicas cantadas pelos pastores adotam o ritmo da Axé-Music, próprio dos artistas do Estado.
"A Bahia é um Estado com muitas peculiaridades e nós não podemos desprezar suas características", diz o bispo Cunha.
O antropólogo Braga identifica na Igreja Universal as pregações "mais virulentas" contra os cultos afro, embora ela não seja a única a criticá-los.
"No discurso, as agressões são muitas. Se não houvesse uma contemporização por parte das pessoas ligadas aos cultos afro, certamente já teria havido algum confronto maior", declara Braga.
Para o pai-de-santo Aristides Mascarenhas, diretor da Federação Baiana dos Cultos Afro-Brasileiros, "essas agressões entram por um ouvido e saem por outro".
Ele afirma que a chegada da Igreja Universal ao panorama religioso baiano não o preocupa. "Nós já resistimos a coisa muito pior e estamos aqui até hoje. Deixem eles falarem. No final, a gente verá quem tem razão."

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