São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995 |
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Agressão à padroeira gera reação em favelas Ato de bispo prejudica evangélicos e mobiliza católicos ELVIRA LOBATO
Evangélicos de diferentes igrejas afirmam que, desde que as cenas da agressão foram exibidas pelas TVs, eles não têm sido recebidos com a mesma receptividade pelos moradores dessas regiões. "Todos os evangélicos estão pagando pela agressão à santa. Os católicos ficaram na defensiva contra os crentes, de forma geral, porque não sabem distinguir as diferentes igrejas", afirma o batista José de Souza Pacheco. Fotógrafo ambulante, Pacheco trabalha basicamente em favelas, oferecendo seus serviços de barraco em barraco. Segundo ele, o episódio prejudicou os evangélicos em toda a periferia de São Paulo. Cidade Júlia, Jardim Primavera, Vila Missionária, Guacuri e Boca de Sapo formam um dos maiores agrupamentos de favelas da zona sul de São Paulo, totalizando aproximadamente 100 mil habitantes. Na última quarta-feira, a reportagem da Folha percorreu essas favelas durante cinco horas. Constatou que o pedido de perdão aos católicos, feito pelo bispo Edir Macedo, e as punições aplicadas a Von Helder não foram suficientes para reverter a situação. "Se algum crente bater à minha porta, vou ficar muito aborrecida. Não sou muito igrejeira, mas sou católica e fiquei horrorizada com o que vi pela TV. Para mim, não adiantou nada o pedido de perdão do Edir Macedo", diz Zélia Pereira, 59, moradora da Cidade Júlia. Conceição Maria Martins, 35, missionária da Assembléia de Deus na favela Jardim Primavera, diz que, desde o episódio, alguns membros de sua igreja não têm tido sucesso ao abordar católicos. "Um irmão contou que tentou pregar os ensinamentos da Bíblia a um católico e que ele se afastou, dizendo que não queria saber de crentes que agridem santos. Satanás veio para disseminar a discórdia e usar as pessoas contra os evangélicos", afirma Conceição. O comerciante Braz Pimentel de Souza, 60, dono de um bar em Vila Guacuri, se diz com "raiva e profunda indignação". Mineiro, de Sapucaí Mirim, ele afirma que se Von Helder tivesse agredido a imagem de Nossa Senhora Aparecida em sua cidade natal "teria sido queimado vivo". Souza mora há 20 anos em Vila Guacuri e é uma liderança na favela. Em poucos minutos, mobiliza testemunhas de Jeová, batistas, umbandistas e missionários da Assembléia de Deus, para também falarem contra Von Helder. "Para mim, a única forma desse bispo se reabilitar perante os católicos seria se penitenciar, caminhando 170 km de São Paulo a Aparecida, para entregar a santa agredida à basílica", diz. Segundo o comerciante, se esse episódio for encerrado sem uma punição mais severa a Von Helder, "os crentes vão montar cavalo e enfiar espora nos católicos". Na favela Santa Inês (zona leste), o pedreiro Antônio Souza Chaves, 47, transformou a entrevista em discurso para os moradores dos barracos vizinhos. "Nunca mais piso dentro de uma igreja de crente. Se eles chutam a padroeira do Brasil, o que não farão comigo?", disse ele, apoiado pelos vizinhos. Chaves se disse católico, mas frequentou várias igrejas evangélicas, inclusive a Universal do Reino de Deus. Na sua avaliação, a Igreja Universal não vai perder fiéis porque seus seguidores são "trouxas, doidos ou espertos". Segundo ele, "os trouxas continuarão frequentando os cultos porque são trouxas; os doidos, porque não agem pela razão e os espertos, porque ficam com o dinheiro dos trouxas e dos doidos". Chaves diz que reza sozinho em sua própria casa e que já não crê em nenhuma religião. Maria das Mercês Costa, 63, que também mora em Santa Inês, é católica, assiste missa todo final de semana, prepara crianças para a primeira comunhão e participa de trabalhos pastorais na favela. Ela se diz magoada com a atitude Von Helder, mas afirma que os católicos devem perdoá-lo. "Não podemos reponder à violência com mais violência", afirma. Texto Anterior: Universal cresce na BA chamando culto afro de "ritual do demônio" Próximo Texto: Líder umbandista teme confronto com "derramamento de sangue" Índice |
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