São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Emprego e reestruturação

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Trava-se uma intensa polêmica acerca das causas do aumento do desemprego na indústria.
O patronato e os sindicatos de trabalhadores tendem a descarregar a responsabilidade sobre as políticas de curto prazo, sobretudo a monetária, que engendram taxas de juros no mínimo quatro vezes mais elevadas do que as que prevalecem entre países civilizados.
O governo retruca com o argumento do ajustamento estrutural das empresas, provocado pela inevitável abertura comercial e pelas mudanças tecnológicas impostas pela concorrência externa.
É difícil aceitar que a violenta queda no emprego industrial, ocorrida entre maio e setembro, possa ser atribuída a um ajustamento estrutural das empresas.
Ainda assim, é inegável que as empresas brasileiras, particularmente no setor industrial, vêm executando, já há algum tempo, um programa de reestruturação produtiva, modernização tecnológica e de reorganização administrativa.
Os efeitos dessas mudanças serão certamente negativos para a capacidade de geração de empregos nas etapas futuras de crescimento da economia. Dependendo da intensidade das transformações tecnológicas, da velocidade da abertura comercial e da combinação entre política cambial e monetária adotada, é até possível imaginar uma redução absoluta do emprego industrial nos próximos anos.
Para quem possa achar exagerada e catastrófica essa avaliação, não custa lembrar que, desde o início dos anos 80 até 1992, cerca de 2,5 milhões de empregos foram definitivamente queimados na indústria manufatureira dos Estados Unidos. Uma queda em valores absolutos.
O economista Wallace Peterson, autor do livro badalado "The Silent Depression", diz que pela primeira vez na história americana há mais pessoas empregadas no governo (18,7 milhões) do que na indústria de transformação (18,1 milhões).
Os anos 80 foram, nos Estados Unidos, os tempos do ajustamento estrutural na indústria. Esse processo de modernização foi, de fato, induzido por uma rápida abertura comercial, estimulado pela valorização cambial e impulsionado pelo movimento de fusões e aquisições da primeira metade da década. Daí nasceram empresas mais fortes e competitivas, mas também emergiu uma estrutura industrial debilitada.
Essa contradição entre o micro e o macro não é difícil de explicar: a globalização, a valorização cambial e a centralização de capital criaram ilhas de excelência, mas promoveram a desestruturação do tecido industrial e a desarticulação das cadeias produtivas constituídas nos períodos de industrialização "nacional".
Não foi por acaso que surgiu a quimera da economia de serviços ou da economia pós-industrial. Entre 1973 e 1991, o crescimento do emprego ocorreu efetivamente nos serviços. Em compensação, o salário real médio despencou 15,5%.

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