São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Salário de R$ 100 custa R$ 128 à empresa

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 02/12/95
Para um salário registrado em carteira de R$ 100, a empresa desembolsa R$ 128 e o trabalhador leva para casa apenas R$ 85.
Assim, o salário que o trabalhador efetivamente coloca no bolso equivale a apenas a 66% do que a empresa gasta. Os outros 44% representam custos com encargos sociais e horas não-trabalhadas.
O cálculo é do economista Edward Amadeo, da PUC do Rio. Amadeo divide do seguinte modo o custo do salário no Brasil:
1) Salário contratual, registrado em carteira, representando 42% do custo total;
2) 13º, horas extras, comissões e abonos, ajuda de custo, salário-família, salários maternidade e enfermidade e abono de férias, que somam 24% do custo;
3) Encargos sociais (INSS, FGTS, salário-educação e contribuições para Senai, Sesi e Sebrae), com 22%;
4) Horas pagas e não-trabalhadas (férias e feriados) representando um custo de 12%.
Benefícios e encargos cresceram muito no Brasil desde o fim do regime militar (1985). Mas não são exagerados. Segundo Amadeo, são comparáveis aos praticados em países como Alemanha, Itália e Suécia.
São, entretanto, inferiores aos dos Estados Unidos e Japão.
Ainda segundo as contas de Edward Amadeo, a demissão de um trabalhador que fique apenas seis meses no emprego representa, para a empresa, um custo de 119% do salário médio do período.
E vai subindo. A demissão de um trabalhador com três anos de casa representa um custo de 215% sobre o salário médio.
Em períodos de forte crescimento econômico, esses encargos e custos acabam pesando pouco. Especialmente se há ganhos de produtividade.
Entretanto, em períodos de recessão, de crescimento moderado ou em ambiente de forte competição, tais encargos acabam sendo um peso excessivo. Assim, em vez de proteger o trabalhador empregado, acabam por desestimular as contratações.
O custo alto da demissão tem certamente o objetivo de inibir as dispensas. Mas pode, em determinados momentos, desestimular a contratação. Se a empresa tem dúvida quanto ao comportamento futuro da economia, evita novas contratações, que poderão ser onerosas em caso de ser necessário reduzir quadros mais à frente.
Essa situação ocorre em todo o mundo, estimulada ainda pelo avanço da tecnologia, que permite produzir mais com menos gente.
Daí a tendência de redução dos encargos e dos benefícios.

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