São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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OGU subestima os juros

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Domingo passado a Folha publicou texto do meu amigo Fabio Giambiagi contra-argumentando algumas das críticas que são feitas ao Orçamento Geral da União (OGU) para 1996, atualmente sendo examinado pelo Congresso Nacional.
Fabio, como cultuador da lógica, consegue oferecer raciocínios convincentes para seis dos sete pontos que menciona. Mas no tocante às despesas com juros elas estão bastante subestimadas.
Para poder demonstrar esse ponto, precisamos saber qual o valor do PIB (Produto Interno Bruto) esperado tanto para 1995 como para 1996.
Sabemos o valor do PIB de 1994: foi de R$ 355 bilhões, segundo números revistos do IBGE. Para saber o PIB de 1995, vamos fazer a hipótese de que a inflação acumulada no período foi de 30% e houve crescimento real de 5%. Neste caso: 355 x 1,30 x 1,05 = 485.
O mesmo pode ser feito para obter o PIB de 1996. Supondo uma inflação mais baixa para o período de 12 meses à frente, 14%, e crescimento de 5%, obtém-se: 485 x 1,14 x 1,05 = 581.
Mesmo com algumas hipóteses otimistas, o governo deverá gastar em 1995, só com a dívida mobiliária federal (esquecendo, pelo momento, outras dívidas que estão vencidas), entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões, ou seja, entre 4,1% e 6,1% do PIB deste ano.
Para 1996, com uma dívida mobiliária maior, digamos que atinja o valor médio de R$ 100 bilhões. Se a taxa de juros real for de 20% no próximo ano (hipótese otimista se considerarmos a diretoria do Banco Central), o governo desembolsará cerca de R$ 20 bilhões ou 3,4% do PIB.
Fica assim descaracterizada a informação de que o governo federal só gastou 1,5% do PIB em 1995 com juros e deve gastar apenas a quantia de 1% do PIB em 1996.
O OGU, por conter números errados, deve ser devolvido pelo Congresso ao Executivo. As duas questões iniciais que devem ser respondidas pelo Executivo são: qual o PIB estimado de 1995; qual o PIB esperado para 1996?
Sem esses números, qualquer discussão é mera masturbação sociológica, na terminologia popularizada por Sérgio Motta. Volte logo ministro, sentimos falta de sua vivacidade no governo.

ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.

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