São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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'Ser homem é uma pressão terrível'

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Folha - Você enfrentou preconceitos, reações negativas?
Jen Xeng - Até agora não. Acho que é fácil explicar: sou muito honesto com as pessoas. Não escondo nada, não tenho nada contra a sociedade, contra ninguém, apenas segui meu próprio desejo. Mas também não exijo que me entendam. Sei que vivo numa cultura com pouca tolerância.
Folha - Mas você já enfrentou alguma situação desagradável?
Jen - Veja, a maioria das pessoas nem sabe que eu mudei de sexo. A única coisa que pode me denunciar é minha voz. Mas já ouvi muita gente dizendo que eu tenho uma voz diferente porque eu sou uma artista, uma cantora.
Folha - Você pensa em adotar alguma criança?
Jen - Não. Eu adoro crianças, mas acho que não poderia fazer isso porque a minha história é muito pesada para uma criança.
Já pensou alguém crescer carregando a minha história, sendo apontado pelas outras crianças como filho ou filha de alguém que mudou de sexo? Seria injusto com a criança. Eu peço aos meus amigos que tenham filhos para que eu seja madrinha! Eu posso ser uma filha, uma amante, mas nunca uma mãe. É uma experiência que vai ficar para minha próxima vida.
Folha - Você é religiosa?
Jen - Tenho minha própria religião. Há gente que acredita em Deus, em Buda. Eu não sei, sinto que há algo no ar que está nos observando. E se você fizer algo ruim, será punido. E eu fico contente pelo fato de ter nascido homem e ter conhecido esse mundo.
Folha - Quais as vantagens e as desvantagens dele?
Jen - Como desvantagem, eu diria que existe uma pressão terrível para você ser forte. Há homens que são fracos, mas não podem demonstrar a fraqueza. Se vão ao cinema, não podem chorar. Não é absurdo? Agora, uma grande vantagem do mundo masculino é poder fazer xixi em pé (risos).
Folha - No passado, você teve experiências heterossexuais?
Jen - Nunca. Sempre me senti atraído pelos homens. Mas eu vivia no ambiente militar e, por isso, tinha uma vida muito fechada, evitava ao máximo demonstrar minhas tendências sexuais. A dança funcionava então como uma válvula de escape, para eu me livrar das minhas frustrações.
Folha - Você está namorando?
Jen - Agora não. Procuro um namorado, mas não tenho pressa.
Folha - As mudanças na China e a abertura a estrangeiros estão tornando o país mais tolerante com homossexuais?
Jen - Sim. Hoje em dia é mais difícil perseguir alguém. E há mais informação sobre homossexualismo, embora ainda haja um longo caminho para melhorar a situação.

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