São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Mailer & Simpson

Em polêmica entrevista publicada no caderno Mais! de hoje o romancista norte-americano comenta o caso O.J. Simpson, a última mania nacional nos EUA. Mailer alerta para o fato de os EUA estarem caminhando para um novo fascismo, previsão que se reforça quando se consideram as declarações do líder do grupo negro Nação do Islã, Louis Farrakhan.
Na completa contramão da história, Farrakhan deseja recriar o famigerado apartheid que os negros sul-africanos tanto lutaram -e lutam- para destruir. Ele defende que existam Estados negros, cidades negras: novas Soweto.
Os brancos, segundo Mailer, estão achando que Simpson é de fato culpado, mas que foi absolvido justamente porque era negro. Já na visão dos negros a absolvição foi justa porque a Justiça dos EUA é uma justiça branca, o que a torna uma não-justiça para os não-brancos. Os números de condenações de negros em relação à proporção que representam da população corroboram essa tese.
Mailer ensaia uma explicação para esse fenômeno. A Justiça não é bem uma Justiça, mas um jogo no qual o advogado mais hábil invariavelmente vence. O menor poder aquisitivo dos negros faz com que eles muitas vezes fiquem nas mãos de advogados dativos, em geral menos hábeis que os profissionais contratados pelos brancos ou as raposas das promotorias.
O caso Simpson, afirma Mailer, foi a pior coisa que poderia acontecer às relações entre brancos e negros nos EUA em muito tempo, qualquer que fosse o veredicto.
Para o escritor, "culpado" ou "inocente" iria necessariamente descontentar a uma das partes, o que contribui para aumentar as desconfianças de uns em relação aos outros. E, segundo Mailer, se não se encontrar uma forma de integração entre brancos e negros, o resultado pode ser o fascismo americano. O teor do pensamento de Farrakhan sugere que o escritor pode estar certo em suas previsões catastrofistas.

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