São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Desvio em Rondônia

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - O governo de Rondônia comprou 350 toneladas de frango, peixe e carne moída para a merenda escolar. Pagou R$ 1.545.689,90. Nas boas casas do ramo o preço real dos produtos não passaria de R$ 928.511,45.
Assim, a administração do governador Valdir Raupp (PMDB) retirou da boca de criancinhas rondonienses R$ 617.178,45 em comida, ou 833 toneladas de frango. A notícia do desvio chegou a Brasília há três dias.
Foi protocolada por parlamentares, entre eles Expedito Jr (PL-RO), no MEC, na Procuradoria da República e no TCU. As evidências de trambicagem saltam da papelada como pulgas de um cão de rua.
Em 17 de maio fez-se a primeira compra. A empresa Cone Norte ficou de fornecer 107.692 kg de frango. Seu preço: R$ 3,25 o quilo. Na última sexta-feira, passados cinco meses, a Casa do Boi, na av. Sete de Setembro, número 1.576, em Porto Velho, oferecia o mesmo produto por R$ 1,35.
Jogaram-se pela janela R$ 204.614,80. O governo dispensou a licitação e pagou adiantado. Até hoje os galináceos não chegaram às escolas.
A empresa Cone Norte tem entre seus sócios Evânia Machado da Silva que, até poucos dias, representava a FAE (Fundação Nacional do Estudante) em Rondônia. Foi ela que autorizou a dispensa de licitação.
Em 23 de junho as repartições públicas de Rondônia estavam especialmente ágeis. Decidiu-se pela manhã comprar 89.605 kg de peixe. Antes do pôr-do-sol a burocracia dispensou a licitação, obteve o preço da firma Ronorte, empenhou a despesa e abriu os seus cofres. Pagou adiantado, naturalmente.
A Ronorte cobrou R$ 5,58 o quilo de peixe. Um produto que, na mesma Porto Velho, podia ser visto a R$ 3,45 na sexta-feira, no Supermercado Ravel, à rua Rafael Vaz e Silva, número 1.225. Perderam-se mais R$ 190.858,65.
A Ronorte foi acionada novamente em 11 de setembro, dessa vez para fornecer 152.900 kg de carne moída, ao preço unitário de R$ 4,55. Na Casa do Boi o governo teria pago R$ 3,10. Economizaria outros R$ 221.705,00.
O dinheiro malversado em Rondônia é federal. Enquanto não devolvê-lo, o Estado não verá novas remessas de Brasília. Além de roubadas, as crianças ficarão sem comida. É o máximo.

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