São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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a meca da Mooca

SÉRGIO DÁVILA

E impressiona. Numa área de 12 mil m2 (ou cerca de dois campos oficiais de futebol), três prédios abrigam cinco bares, pizzaria, cinco lojas, uma capela, dois palcos, picadeiro, deck para desfiles e, claro, a pista de dança. Para 3.000 pessoas.

Rei da noite
Tudo começou com o arquiteto e decorador Adriano Mariutti, um dos sócios. Em outubro do ano passado, ele procurava lugares novos e diferentes para uma casa noturna.
Um amigo o levou até o prédio da rua Borges de Figueiredo, na Mooca. O que tinha sido um moinho no começo do século e uma promissora indústria até os anos 60, virara um abrigo de entulho -no caso, 3.200 m3 de lixo.
"Muito grande", foi o primeiro pensamento de Mariutti. "Mas pode dar certo", foi o segundo, que vingou. Duas semanas depois, o milionário Carlos Ortali, dono da produtora Miksom, foi arrastado até lá. Disse sim, e a iniciativa embrionária já contava então com a mão-de-obra e o dinheiro. "Tudo certo, mas está faltando um rei da noite aqui", calculou Ortali.
Chamaram logo dois. Ricardo Amaral e José Victor Oliva viram, gostaram e toparam. "A reação de quem enxerga pela primeira vez o moinho é sempre a mesma", diz Ortali. "Vai do pasmo ao êxtase."
Mariutti projetou e decorou as casas noturnas Banana Banana e Resumo da Ópera, da dupla, e Ortali era amigo dos dois. Amaral, que convocou seu irmão Henrique, e Oliva, que colocou Arthur Briquet na jogada, fecharam assim o grupo de sócios, completado por José Francisco, irmão de Ortali. Em abril deste ano, começaram as reformas no futuro Moinho Santo Antônio.

SoHo na Mooca
O empecilho inicial, o tamanho do prédio, os sete sócios tentam reverter a seu favor. Imaginaram ali uma disneylândia adulta, um centro de lazer para gente grande.
"Em que outro lugar de São Paulo o sujeito faz happy hour, come uma pizza, dança, assiste a um leilão, vê um show e faz compras, no mesmo lugar, sem precisar pipocar pela cidade?", pergunta Ricardo Amaral.
Outro ponto problemático, a localização fora do eixo tradicional, eles dizem ter tirado de letra. Tanto que virou conceito. "Vamos fazer disso aqui o SoHo, o TriBeCa paulistano", entusiasma-se Amaral, referindo-se a dois bairros ex-industriais que foram revitalizados e viraram moda nos anos 80 em Nova York.
"Os sócios estão dando ótimo exemplo para outros investidores se interessarem pelo bairro", acredita Luiz Antonio Pompéia, presidente da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio).
"Além do mais, nós não queríamos pegar outra casinha no Itaim ou em Pinheiros e transformar em mais uma danceteria", completa. "Ninguém aguenta mais a zona sul", concorda José Victor Oliva.
Ambos estão amparados por uma pesquisa que encomendaram ao instituto Toledo & Associados. Feita junto a 441 frequentadores da noite, moradores de vários bairros paulistanos, concluiu que o consumidor está querendo opções fora do trinômio Itaim-Jardins-Pinheiros.
"E a Mooca é perto, fica a dez minutos da Paulista", diz Ortali. "É mais fácil chegar aqui num sábado à noite do que na rua Franz Schubert", cutuca Adriano Mariutti. "Estamos plantando uma sementinha na Mooca", resume Amaral.
O bairro, penhorado, agradece. E começa a dar sinais de reação. Nos próximos meses, nos quarteirões próximos ao Moinho, estão programados um boliche, uma pista de kart indoor e um shopping center.
Boom imobiliário? "Aquela região do Moinho é a parte mais nobre da zona leste, o chamado Parque da Mooca", diz Luiz Antonio Pompéia. "É onde ficam os apartamentos de alto luxo, com piscina." Ou, como exagera o sócio Carlos Ortali: "É o SoHo paulistano".

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