São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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PF vê vedetismo na acusação a Mirândola

Diretor, que estava viajando, critica seu substituto

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor da PF (Polícia Federal), Vicente Chelotti, 45, acusou de "vedetismo" o segundo homem na hierarquia da PF, Moacir Favetti, por ter se precipitado ao acusar o ex-funcionário do Itamaraty Jorge Mirândola pelo atentado com livro-bomba.
Chelotti disse que havia um "clima propício" para que fossem forjadas provas contra Mirândola, acusado do envio da bomba no dia 3 passado que feriu a diplomata Andréia David.
Favetti não quis comentar as declarações do diretor. Na semana da explosão da bomba, Favetti estava no cargo de diretor interino porque Chelotti estava viajando para a China.

Sem provas
O diretor da PF elogiou os peritos do Instituto Nacional de Criminalística por terem sido transparentes e afirmado que não havia provas contra o suspeito.
Segundo Chelotti, o clima favorável à fabricação de provas se desenhou no dia 9 de outubro, quando os peritos verificaram que os fios elétricos adquiridos por Mirândola em Divinolândia (SP) não coincidiam com o material encontrado no livro-bomba.
"Eu não diria que aconteceu essa coisa (forjar provas), mas o clima ficou propício para isso. Porque, de repente, 'ah, vamos preservar a instituição e ele (Mirândola) que se vire'. O melhor caminho foi ter assumido a precipitação e o erro e voltar a fazer um trabalho de polícia", disse o diretor.
Três dias antes o coordenador Favetti havia considerado o caso como "praticamente encerrado" ao ser comunicado pelo delegado Mario Nakasa da descoberta de uma nota fiscal de materiais elétricos comprados por Mirândola.
"Eles (os peritos) foram transparentes. Podiam muito bem dizer que os fios batem. É aquela história. Até ele (Mirândola) provar que focinho de porco não é tomada, já viu", disse.
Ele apontou que tirou lições do episódio. "Não se pode trabalhar em casos dessa natureza com precipitação, açodamento e vedetismo. O que me deixou chateado é que esse vedetismo foi justamente provocado pela administração."
A Polícia Federal abriu inquérito ontem para apurar o envio de uma carta publicada no jornal "Correio Braziliense" com críticas a Favetti e assinada pela chefe da Comunicação Social do órgão, Viviane da Rosa. Ela negou a autoria da carta.

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